Construção e manutenção da VIA NOVA
Na VIA NOVA o traçado foi cuidadosamente planeado por arquitectos, engenheiros e pelos “gromatici”, os topógrafos que, apesar dos utensílios rudimentares, já calculavam com exactidão as distâncias e os declives.
A VIA NOVA foi construída de tal modo que, apesar de cruzar um espaço montanhoso com serras que chegam aos dois mil metros, só em alguns troços pouco extensos, alcança 900 metros. Os miliários de Tito e Domiciano documentam a abertura da via. O granito e o xisto, que formam o substrato rochoso ao longo de grande parte do traçado da via, foram utilizados de forma abundante, nos pavimentos lajeados, nos muros de suporte, nas obras de arte e claro, nos miliários. Num contexto climático com alta pluviosidade, com pendores significativos, o traçado da VIA NOVA estava sujeito a processos erosivos intensos, justificando sucessivas obras de manutenção. Os miliários de Maximino e Máximo apresentam um texto muito expressivo, referindo o restauro de pontes e caminhos deteriorados pelo tempo.
A Pavimentação
Para se entender as características construtivas da VIA NOVA é necessário ter em conta o substrato rochoso da região, formado por diversos tipos de granito. Mantendo como objectivo primordial um traçado estável, sem grandes oscilações de cota, a engenharia romana adaptou o traçado de via às condições litológicas e geomorfológicas. Em muitos locais, nos troços de meia vertente, o substrato rochoso era aplanado, por forma a garantir uma superfície dura, sobre a qual se dispunham uma ou várias camadas de preparação, de grande robustez. Sobre esta camada assentavam dois tipos de pavimento. Nas zonas planas, o piso era de terra batida, misturando arenas e alterites, garantindo deste modo plasticidade e consistência. Nos declives observam-se calçadas de lajes irregulares. Noutros pontos a própria rocha terá funcionado como pavimento, talvez porque o grau de dureza não facilitava a sua desmontagem. Ao longo dos séculos o lajeado das calçadas foi sempre reparado, pelo que não se pode considerar que seja, integralmente, da época romana. Em muitos dos vários troços de calçada observáveis, no percurso da Geira, é fácil registar o desgaste variável das lajes, o diferente grau de polimento e a desigual profundidade dos sulcos dos carros. A VIA NOVA foi cuidada ao longo de séculos pelo que, ao lado de uma laje original, está uma outra colocada séculos depois.
O traçado da VIA NOVA tem sido objecto de estudo por inúmeros investigadores portugueses e espanhóis, desde o século XVIII. No seu conjunto estes estudos permitem esboçar o percurso deste caminho, nas suas grandes linhas.
Da cidade de Braga descia até ao rio Cávado, que transpunha no sítio da Barca de Ancêde. Depois, rumava a norte e trepava pelos últimos contrafortes da serra de Santa Isabel, ou da Abadia. Abandonava, assim, o vale do Cávado, prosseguindo pelas vertentes meridionais do vale do Rio Homem até Covide, onde entrava na Serra do Gerês. Atravessava a veiga de S. João de Campo e retomava o Vale do Rio Homem até à portela homónima. A partir daqui, descia pelo vale de Rio Caldo, onde se situava a mansio de Aquis Originis, continuando até ao vale do Lima que transpunha a jusante de Bande (mansio de Aquis Querquernnis). Daqui prosseguia para nordeste, ao longo da margem direita daquele rio, pela região da Baixa Limia até à Lagoa de Antelas, zona dominada pelo pequeno relevo onde ficava a mansio de Aquis Geminis e onde hoje se observam os restos do Castelo de Sandiás. Neste ponto rumava para norte até ao vale do Rio Arnoya, onde se localiza a mansio Salientibus. Depois retomava a direcção nordeste, trepando até ao altiplano de Trives, entrando assim no seu percurso mais acidentado. Nesta zona situavam-se duas mansiones: Praesidio (Burgo); Nemetobriga (Póboa de Trives). Em seguida cruzava, sucessivamente, os rios Návea, Bibei, onde se conserva intacta uma Ponte Romana, e o Sil, em Cigarrosa (mansio Foro Gigurrorum). Daqui subia para nordeste, ao longo do vale do Rio Sil e do seu afluente Entoma, atingindo, assim, a rica zona mineira de Bierzo (Bergidum Flavium). Daí cruzava os Montes de León, alcançando, deste modo, Asturica Augusta. Num percurso de 215 milhas, a VIA NOVA atravessava diferentes regiões naturais e diversas bacias hidrográficas, bem como distintos populi entre os quais referimos os Bracari, os Querquernni, os Limici, os Tamacani e os Gigurri.
No conjunto da rede viária do extenso império romano, o caminho entre Bracara Augusta (Braga) e Asturica Augusta (Astorga – Província de Léon), por Bergidum Flavium (Ponferrada), constitui um testemunho excepcional de uma época em que a Europa era um espaço comum. A construção da VIA NOVA, na segunda metade do século I d.C. reforçou a malha viária, permitindo o reordenamento territorial, a intensa actividade mineira, com destaque especial para o ouro, contribuindo a longo prazo para a emergência de uma entidade histórica que perdurou ao longo dos milénios: a Callaecia.
Continua…
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