Gerês – 13 de Janeiro de 2007
Um pouco de História
A ÉPOCA ROMANA
Nos limiares da era Cristã, Roma impõe definitivamente o seu domínio na Hispânia pela força de um exército poderoso e organizado.
Redistribuíram as terras conquistadas aos Bracaros e organizaram-nas administrativamente. O “latim” torna-se a língua dominante. Unifica-se o direito, a moeda, os padrões de peso e medidas e o próprio calendário.
Constroem-se cidades e vilas e a vida urbana renova hábitos de convivência social, com preferência pelos jogos de guerreiros e estâncias termais e multiplicam-se as necessidades de consumo. Mais tarde, grandes Imperadores como Caio Júlio César Octaviano Augusto, sobrinho e herdeiro de Júlio César, o máximo pontífice, transmitindo um diálogo de poder universal perante o Povo, cultivava-se intelectualmente em aulas de “retórica” (a arte de falar em público) transmitindo grandeza, sabedoria e progresso.
Mas, as primeiras vias daquele tempo não permitiam grandes deslocações entre Cidades e Vilas onde se edificavam anfiteatros e as “mansio”ou estâncias termais.
Com o rápido crescimento do Império nas antigas terras da Hispânia, houve necessidade de se criarem outras vias terrestres para a comunicação entre as Cidades e locais importantes daquele tempo.
Neste contexto foi então aberta uma VIA NOVA entre Bracara Augusta (Braga) e Asturica Augusta (Astorga), sob o domínio dos Flávios, na segunda metade do sec. I d. C. Esta via em toda a sua extensão entre Bracara e Asturica somava duzentas e trinta e cinco milhas, que perfaziam cerca de 318 km.
Sendo uma das estradas romanas mais bem preservadas, conservam-se ainda um grande numero de MILIÁRIOS que “balizavam” essas mesmas MILHAS.
Convém lembrar que a milha romana equivalia a mil passos , cerca de 1500 metros.
Entre as milhas XXIV e XXXIX observam-se vários conjuntos de marcos miliários, somando um total de 91. Só na milha XXXI, conservam-se 21 marcos.
É de sublinhar que a VIA NOVA corre, neste trecho pela parte superior do Vale da Ribeira da Roda, alcançando a Veiga de Covide, e depois por uma depressão de origem tectónica (Campo de Gerês) o que lhe permite entrar no curso superior do Rio Homem, de uma forma directa.
Retomando forças para percorrer as milhas que restam até alcançar a milha XXXIX, o viandante entra agora no curso superior do rio Homem, prosseguindo sempre ao longo da margem esquerda, contornando a base dos contrafortes setentrionais da Serra do Gerês. O trajecto entre as milhas XXX e XXXI é deveras singular pela sua riqueza arqueológica, o que permite observar todo um conjunto de vivências dos nossos antepassados.
Entre estas duas milhas é possível observar as ruínas de um edifício, escavado em 1992, em forma de rectângulo, aparelhado com pedra picada e bons alicerces, que poderá ter sido uma mutatio. Para além da mutatio, é ainda visível um troço original da via assente em grandes lages. Um pouco antes deste lajeado, na base da encosta, sobressai um penedo com pequenas cavidades rectangulares em linha e separadas por intervalos iguais, demonstrando a técnica usada para a extracção de blocos graníticos.
Ainda na Bica da Geira podemos encontrar um aglomerado de 21 miliários assinalando a milha XXXI.
Através da estrada florestal, resguardada por um belíssimo carvalhal, alcançamos a milha XXXII, na Volta do Covo, onde se regista um conjunto de 22 miliários.
Na Albergaria, um pouco adiante deste local, encontra-se o que resta de duas pequenas pontes romanas. Ao que tudo indica, a avaliar pelas escavações realizadas entre 1985 e 1987, no espaço entre as duas obras de arte, é possível que aqui tivesse existido uma instalação romana que poderia, eventualmente, ser um posto de controlo ou uma “statione”.
Entre a milha XXXII e a XXXIII, a via segue sem grandes oscilações de cota, por entre bosques, até junto da Ponte Feia onde se situava a milha XXXIII, assinalada por um aglomerado de 20 miliários.
Da milha XXXIII à milha XXXIV assinalamos alguns vestígios de uma pedreira de onde se extraíram os miliários desta milha e o material para a construção da Ponte de São Miguel.
O acesso à milha seguinte é feito pela margem direita do Rio Homem, tendo que atravessar este, pela ausência de ponte, pelas rochas junto à corrente, quando o caudal do rio permite.Na impossibilidade deve seguir-se pela estrada até à Portela do Homem.
Da fronteira da Portela do Homem abrem-se horizontes para o vale do Lima.
Já em território Espanhol, assinalamos, em Lama de Picón, local onde se localiza a milha XXXV, um miliário in sito e talvez uma possível mutatio.
Continua…
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