segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A GEIRA ROMANA / VIA NOVA (3)

Gerês – 13 de Janeiro de 2007

Um pouco de História

A ÉPOCA ROMANA

Nos limiares da era Cristã, Roma impõe definitivamente o seu domínio na Hispânia pela força de um exército poderoso e organizado.
Redistribuíram as terras conquistadas aos Bracaros e organizaram-nas administrativamente. O “latim” torna-se a língua dominante. Unifica-se o direito, a moeda, os padrões de peso e medidas e o próprio calendário.
Constroem-se cidades e vilas e a vida urbana renova hábitos de convivência social, com preferência pelos jogos de guerreiros e estâncias termais e multiplicam-se as necessidades de consumo. Mais tarde, grandes Imperadores como Caio Júlio César Octaviano Augusto, sobrinho e herdeiro de Júlio César, o máximo pontífice, transmitindo um diálogo de poder universal perante o Povo, cultivava-se intelectualmente em aulas de “retórica” (a arte de falar em público) transmitindo grandeza, sabedoria e progresso.

Mas, as primeiras vias daquele tempo não permitiam grandes deslocações entre Cidades e Vilas onde se edificavam anfiteatros e as “mansio”ou estâncias termais.
Com o rápido crescimento do Império nas antigas terras da Hispânia, houve necessidade de se criarem outras vias terrestres para a comunicação entre as Cidades e locais importantes daquele tempo.
Neste contexto foi então aberta uma VIA NOVA entre Bracara Augusta (Braga) e Asturica Augusta (Astorga), sob o domínio dos Flávios, na segunda metade do sec. I d. C. Esta via em toda a sua extensão entre Bracara e Asturica somava duzentas e trinta e cinco milhas, que perfaziam cerca de 318 km.
Sendo uma das estradas romanas mais bem preservadas, conservam-se ainda um grande numero de MILIÁRIOS que “balizavam” essas mesmas MILHAS.

Breve descrição das Milhas que percorremos

Convém lembrar que a milha romana equivalia a mil passos , cerca de 1500 metros.

Entre as milhas XXIV e XXXIX observam-se vários conjuntos de marcos miliários, somando um total de 91. Só na milha XXXI, conservam-se 21 marcos.
É de sublinhar que a VIA NOVA corre, neste trecho pela parte superior do Vale da Ribeira da Roda, alcançando a Veiga de Covide, e depois por uma depressão de origem tectónica (Campo de Gerês) o que lhe permite entrar no curso superior do Rio Homem, de uma forma directa.

Atravessando esta depressão, evita um longo percurso pela margem direita do rio Homem, ao longo do seu médio curso. As duas veigas de grande fertilidade – Veiga de Covide e Veiga de Campo do Geres, permitem ao caminhante contemplar uma paisagem rural típica do Minho e repousar da longa caminhada.
Retomando forças para percorrer as milhas que restam até alcançar a milha XXXIX, o viandante entra agora no curso superior do rio Homem, prosseguindo sempre ao longo da margem esquerda, contornando a base dos contrafortes setentrionais da Serra do Gerês. O trajecto entre as milhas XXX e XXXI é deveras singular pela sua riqueza arqueológica, o que permite observar todo um conjunto de vivências dos nossos antepassados.

Entre estas duas milhas é possível observar as ruínas de um edifício, escavado em 1992, em forma de rectângulo, aparelhado com pedra picada e bons alicerces, que poderá ter sido uma mutatio. Para além da mutatio, é ainda visível um troço original da via assente em grandes lages. Um pouco antes deste lajeado, na base da encosta, sobressai um penedo com pequenas cavidades rectangulares em linha e separadas por intervalos iguais, demonstrando a técnica usada para a extracção de blocos graníticos.

Ainda na Bica da Geira podemos encontrar um aglomerado de 21 miliários assinalando a milha XXXI.
Através da estrada florestal, resguardada por um belíssimo carvalhal, alcançamos a milha XXXII, na Volta do Covo, onde se regista um conjunto de 22 miliários.
Na Albergaria, um pouco adiante deste local, encontra-se o que resta de duas pequenas pontes romanas. Ao que tudo indica, a avaliar pelas escavações realizadas entre 1985 e 1987, no espaço entre as duas obras de arte, é possível que aqui tivesse existido uma instalação romana que poderia, eventualmente, ser um posto de controlo ou uma “statione”.
Entre a milha XXXII e a XXXIII, a via segue sem grandes oscilações de cota, por entre bosques, até junto da Ponte Feia onde se situava a milha XXXIII, assinalada por um aglomerado de 20 miliários.

Da milha XXXIII à milha XXXIV assinalamos alguns vestígios de uma pedreira de onde se extraíram os miliários desta milha e o material para a construção da Ponte de São Miguel.

O acesso à milha seguinte é feito pela margem direita do Rio Homem, tendo que atravessar este, pela ausência de ponte, pelas rochas junto à corrente, quando o caudal do rio permite.
Passando em frente a uma Casa Florestal, transpondo uma ribeira, alcança-se finalmente a milha XXXIV, balizada por 8 marcos miliários.


Na impossibilidade deve seguir-se pela estrada até à Portela do Homem.
Da fronteira da Portela do Homem abrem-se horizontes para o vale do Lima.
Já em território Espanhol, assinalamos, em Lama de Picón, local onde se localiza a milha XXXV, um miliário in sito e talvez uma possível mutatio.


Passando por Chã dos Pasteroques, milha XXXVI, onde se registam 5 miliários, por Pala Falsa, milha XXXVII e por Corgas da Fecha e de Agualevada, chegamos ao lugar de Baños, onde se localiza Aquae Originis, a segunda mansio da VIA NOVA, assinalando a milha XXXIX.


Baños de Rio Caldo, cujas águas termais eram muito procuradas pelos romanos, são hoje uma pequena localidade com alguma vivência turística, em resultado do balneário termal recentemente construído. As escavações arqueológicas realizadas no lugar do Covelo, perto das nascentes termais, puseram a descoberto vestígios arqueológicos pertencentes, muito provavelmente, à segunda mansio da VIA NOVA, assinalada no Itinerário de Antonino.

Continua…

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