Aquilino Ribeiro
Terras do Demo – Terra de Homens
(Um paraíso distante!)
«Um dia um homem pegou no seu bordão e partiu a correr as sete partidas do mundo. Andou, andou até que foi dar a uma terra de que ninguém faz ideia: "a gente comia calhaus e ladrava como os cães".
Terras do Demo se chamou a estas terras: SOUTOSA, MOIMENTA DA BEIRA, V. N. DE PAIVA.
Nesta pátria estranha, nenhum rei passou em seu governo.
(Um paraíso distante!)
«Um dia um homem pegou no seu bordão e partiu a correr as sete partidas do mundo. Andou, andou até que foi dar a uma terra de que ninguém faz ideia: "a gente comia calhaus e ladrava como os cães".
Terras do Demo se chamou a estas terras: SOUTOSA, MOIMENTA DA BEIRA, V. N. DE PAIVA.
Nesta pátria estranha, nenhum rei passou em seu governo.
Esta história começa desde o princípio do mundo, desde os animais primitivos.
Fala dos homens e da terra... "Barulhenta, valerosa, suja, sensual, avara, honrada, com todos os sentimentos e instintos que constituíam o empedrado da comuna antiga".
Fala dos homens e da terra... "Barulhenta, valerosa, suja, sensual, avara, honrada, com todos os sentimentos e instintos que constituíam o empedrado da comuna antiga".
Os homens são camponeses e pastores quase todos. Regam com suor a terra ou dormem no monte com as ovelhas. Medem-se pelo trigo, cumprindo promessas e correm com os gados à volta de capelas que encobrem grutas onde a divindade se revelou a uma criança.
Nascem e morrem como o dia e a noite.
Desdobram a vida como a Mãe-Natureza faz com as estações.
Desdobram a vida como a Mãe-Natureza faz com as estações.
Partilham o pão com os mendigos e os peregrinos. Vigiam as fronteiras indecisas que se abrem à senha de almocreves, às vozes dos senhores padres, aos empurrões da Justiça e da Fazenda, que se abrem mal aos passos do mestre-escola.
Têm as feiras e as romarias para seu encontro. E a festa do orago. E os balcões da taberna. E os serões. E as noites de inverno em casa, e os lumes da urze.
E os caminhos sombreados de castanheiros antigos e a mansidão dos pinheirais.
E o coração que salta no peito sempre que chega o tempo do amor.
E ciúme, facadas, um corpo levado numa manta e os choros das mulheres.
E os caminhos sombreados de castanheiros antigos e a mansidão dos pinheirais.
E o coração que salta no peito sempre que chega o tempo do amor.
E ciúme, facadas, um corpo levado numa manta e os choros das mulheres.
Quando a terra se arma em madrasta os homens, às vezes, fogem...
São mais os novos. Uns, rumam ao Brasil. Outros vão para Franças e Araganças.
Vão e vêm, conforme a sorte. Terras do Demo! ... estas serras bárbaras, situadas longe do tumulto civilizacional, abandonadas ao seu lado primitivo!
São mais os novos. Uns, rumam ao Brasil. Outros vão para Franças e Araganças.
Vão e vêm, conforme a sorte. Terras do Demo! ... estas serras bárbaras, situadas longe do tumulto civilizacional, abandonadas ao seu lado primitivo!
A vida dos homens cumprida, como saga contada por um “Mestre” atento e comovido.
A vida feita Via Sinuosa que conduz ao Paraíso.»
Do livro: “Terras do Demo” / Compilação…mas Aquilino Ribeiro suspendeu a crónica já num tempo em que o Paraíso ficava distante... era 1918.
Naqueles anos, durante os meses de Verão, Aquilino vinha de Lisboa para desfrutar do seu “paraíso de inspiração” em Paredes de Coura, na célebre “Casa Grande de Romarigães” onde criou e eternizou várias obras, os seus “Jardins das Tormentas”…
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