terça-feira, 22 de março de 2011

Procissão dos Passos

20 de Março 2011 - S. Mamede de Infesta
Desde 1896 que se realiza a Procissão dos Passos, que não sendo das mais antigas, é sem dúvida das mais carismáticas. O programa tem lugar em vários pontos da jovem Cidade por alturas do segundo Domingo da Quaresma, na mesma tradição como quando era Vila e Aldeia. Os actos de culto iniciam-se no sábado com missa em honra da Senhora da Soledade. Segue-se a Via-Sacra e no fim desta a procissão da Senhora da Soledade para a capela da Ermida. No domingo, este de 20 de Março, celebrou-se missa solene em honra do Senhor dos Passos e à tarde a singela procissão percorreu as principais artérias da Cidade. No final e no largo da Ermida teve lugar o Sermão do Encontro.

Fotos da Procissão































Aquele Abraço

21 de Março: Primavera é Poesia!




ACORDE FLORESTAL

Oiço-vos por instinto
Sussurrantes pinhais,
Não entendo as palavras
Mas pressinto
Que são poemas
Que me recitais.

Poemas simples de raíz agreste
Ondulada e discreta melodia,
Que ressuscita e veste
O cadáver de cada penedia!

Poema de Miguel Torga

quinta-feira, 17 de março de 2011

ORNITOLOGIA – Textos/Ilustrações (1)

O Amor pelas Aves (A)

O inevitável sentido possessivo

Como é possível não se amar as aves, ao espreitarmos a sua encantadora vida selvagem, vendo-as saltitar de ramo em ramo ou erguendo voo de árvore para árvore, escutando o seu agradável chilrear e doces gorjeios?
Como é tão belo ir passar uma manhã ao campo e num bosque, em contacto íntimo com a Natureza, ouvir os cantos das aves e reparar nos seus íntimos hábitos de viver!
E depois... que prazer ao encontrar um pequeno ninho, quantas vezes no lugar menos esperado, numa construção tão perfeita e harmoniosa, oculta entre a vegetação.
Se lá formos alguns dias depois, encontraremos uns pequeninos ovos, de onde mais tarde nascerão uns deliciosos serezinhos... a que já então chamaremos nossos!
Mas, esta fascinante paixão por eles, esta alegria que nos contagia e nos faz lá ir ao ninho constantemente, não dura sempre!
Um dia, encontraremos o ninho vazio, porque os seus jovens habitantes – que eram nossos? - partiram...
Depois de gozarmos as avezinhas no seu habitat natural, não admira, que desejemos transportá-las para a nossa casa, para na sua companhia gozarmos das suas graça e beleza e as maravilhosas canções.

Aficionado: “Bichinho ou vício?”

Embora gostando e admirando toda a biodiversidade que se me depara, o Amor que nutro pelas aves é um “bichinho” especial que sempre me rói cá dentro!
Como em 2003 ao fim de 10 anos deixei de criá-las (quiçá voltarei a tê-las) a cada passo tenho que ir vê-las! Faço uma visita a alguns amigos que ainda são criadores e mato saudades destes meus amiguinhos.
Criei canários tão só para me divertir e provar a mim mesmo que, como os “Mestres”, eu também era capaz de criar estas deliciosas aves e mostrar aos amigos o meu produto.
Aprendi teoricamente nalguns livros da especialidade que adquiri e mais tarde também segui alguns conselhos (os que considerava francos e objectivos) dos antigos e criadores experientes. Jamais esquecerei esses anos que vivi preso à sua companhia agradável e ainda hoje gosto de ir ver exposições, lembrando-me, com uma lágrima marota a escorrer e que sempre disfarço, a Paz, harmonia e tranquilidade que me deram, relegando para segundo plano o trabalho que tive a cuidar deles, bem como alguns dissabores por que passei.

Quem é que não gosta de Aves»?

No auge da carreira de investigação em 1951, o ornitologista inglês James Ficher, escrevia:

«Todos os tipos de pessoas gostam de aves. De entre as que eu conheço há um primeiro-ministro, um presidente, três secretários de estado, uma mulher-a-dias, dois polícias, dois reis, dois duques, um príncipe, uma princesa, um comunista, sete trabalhistas, um liberal e dois conservadores do parlamento inglês, vários trabalhadores rurais, um empresário, 46 professores, um mecânico, um carteiro e um estofador.»


PEDAGOGIA

Brinca enquanto souberes!
Tudo o que é bom e belo
Se desaprende...
A vida compra e vende
A perdição,
Alheado e feliz,
Brinca no mundo da imaginação,
Que nenhum outro mundo contradiz!
Brinca instintivamente
Como um bicho!
Fura os olhos do tempo,
E à volta do seu pasmo alvar
De cabra-cega tonta,
A saltar e a correr,
Desafronta
O adulto que hás-de ser!


Poema de Miguel Torga

Continua...

ORNITOLOGIA – Textos/Ilustrações (2)

O Amor pelas Aves (B)

Dos sete aos treze anos foi um período muito importante e decisivo para a minha personalidade. Era o meu despontar para a Natureza, de conhecer e amar os animais, bem como admirar as árvores e as plantas que avistava por onde passava.
Dava largas à imaginação e fundia com a minha sensibilidade, poemas ou frases que lia e que me empurravam para a descoberta, dando o verdadeiro sentido a essas palavras que me deslumbravam e interpretava como um dever e necessidade para a minha Alma.


«Tu, que cresces para a Vida e que a cada dia vais tendo maior capacidade de observação, olha e repara em tudo que te rodeia. Não deixes escapar nada.»


«Ama as aves!».


Meu Deus, como gostei sempre tanto desta frase tão pequenina!
Como é que eu podia não amar as aves, se andava na cata delas, a espreitar a sua encantadora vida intima?
O “ladrão” do melro toda a noite cantou! – dizia alguém que não conseguiu dormir.
Depressa eu aprendi e entendia este poema de Miguel Torga:

A lição do Melro


Oiço todos os dias,
De manhãzinha,
Um bonito poema
Cantado por um melro
Madrugador.

Um poema de Amor
Singelo e desprendido
Que me deixa no ouvido
Envergonhado
A lição virginal
Do Natural,
Que é sempre o mesmo e variado!

Fascinaram-me histórias do “Mestre” Miguel Torga, como a do «Farrusco» (livro “Bichos”). O melro que escutava e “ria” das preces da Clara, uma jovem pretendente a casar e arrastada pela onda da lengalenga, constantemente perguntava ao cuco de Vilar de Celas: “Cuco do Minho, Cuco da Beira, quantos anos me dás de solteira? – e este a cada dia que passava, cantava sempre mais vezes: cucu...cucu...cucu.
O chilrear e as melodias do seu canto enternecia-me o coração e fazia-me mais feliz!
Sempre que podia, fugia de casa e passava tanto tempo no campo a observar tudo, mas eram as aves a principal atracção. Escondido e sentado num lugar que ninguém me visse, eu deliciava-me a ver os melros, os pintassilgos, os verdelhões, os chamarizes, as rolas e os pardais a saltitar de ramo em ramo ou então erguendo voo de árvore para árvore, cantando felizes. Os seus movimentos eram tão diferentes dos outros animais.
Levei algum tempo a descobrir os seus ninhos, especialmente dos melros, que eram muito espertos. Eu via o melro pousado no arbusto, deslocava-me sorrateiro e ao aproximar-me do local, após verificar tudo a pente fino, não encontrava qualquer ninho.
Que raio é isto? Como pode ser, eu vejo eles a levar comida no bico para os filhos e não encontro o ninho? Há qualquer coisa que está errado comigo e não entendo, dizia cabisbaixo.
Mais tarde, e após muito os observar, é que encontrei o primeiro ninho, cheio de filhinhos, escuros e meio russos.
É que os melros são espertos. O macho e a fêmea levam comida no bico e dirigem-se para um ramo, ao alcance da nossa vista, deixando-se ficar aí largos minutos, se notarem que estão a ser observados. Só quando verificam que já não há perigo, é que se dirigem para o local onde está o ninho, às vezes cem ou mais metros de distância dali.
Eu tive que me esconder bem, várias vezes para eles não me verem e descobrir o ninho.
E que emoção e prazer eu senti quando descobri o primeiro ninho, num muro entre as heras, junto ao ribeiro. Chamei-lhe logo de “meu”!
Era tão redondinho, construído com a habilidade que só as aves sabem fazer. Era feito de ervas secas, musgo, cabelos, farrapitos pequenos e lama à volta a segurar.
Lá dentro quatro cabecinhas que, ao verem a minha mão a aproximar, abriram todos o bico mas, num ápice logo se agacharam e comprimiam-se dentro daquele espaço.
Percebi logo que me deveria retirar e assim fiz.

Continua...

ORNITOLOGIA – Textos/Ilustrações (3)

O Amor pelas Aves (C)

Todavia, no dia seguinte, embora cautelosamente, eu fui lá vê-los mais duas vezes, e notava os pais cheios de raiva, passando por cima de mim e emitiam gritos estridentes que me assustava.
Mais consciente depois, deixei vários dias sem lá aparecer... ao meu ninho.
Quando regressei, encontrei o ninho vazio. Eles já tinham partido. Já voavam... e passei a ver muitos mais melros por aquela área, para minha alegria e consolação.
Se quisesse, tinha-os tirado mas, as palavras do “Mestre” Miguel Torga, para mim eram sagradas, mais do que a doutrina religiosa que aprendia:
No seu conto «Jesus», o menino subiu ao alto cedro e espreitou o ninho de pintassilgo. Só tinha um único ovo e ele de contente, pegou-lhe com delicadeza e deu-lhe um beijo.
Ao simples calor da sua boca, a casca estalara e nasceu um pintassilgo depenadinho.

Sei de um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo redondinho
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar este segredo
Comigo.
E depois ter um Amigo
Que faça o pino
A voar…a voar…

Agora, eu trazia no bolso um pedaço de boroa que desfazia no chão em migalhas para eles comerem e levarem para os filhos.
Sem saber, eu era um Naturalista. Também me foram surgindo nas minhas descobertas sobre os animais, coisas e situações que se iam tornando para mim místicos segredos, que só eu sabia!
Passados tantos anos, hoje deixo aqui uma ilustração sobre o melro, ave muito prolífera.

Família: MUSCICAPIDAE
Nome científico: Turdus Merula / Melro

É um pássaro fácil de distinguir, de uns 25 centímetros de comprimento. Tem voo um pouco pesado e em geral rasteiro, rente ao solo, nos nossos parques, jardins e campos cultivados. No chão, desloca-se aos saltinhos, em busca de comida.
O macho é escuro, de bico amarelo; as crias e a fêmea são mais russos. Não deixam ninguém aproximar-se, mas são mais tolerantes, na Primavera. Andam sempre dois ou três juntos, e fogem para dentro dos arbustos onde têm ninho. Os melros andam quase sempre a saltitar por entre as ramadas de kiwi da antiga Quinta de S. Felix, em busca de diversificado alimento.
Visita com muita frequência o meu quintal, ao longo das 4 estações, onde já chegou a criar, quando não havia por aqui gatos.
Devora toda a espécie de fruta que aqui nasce, desde laranjas, ameixas, limões, pêras, damascos, bem como toda a minhoca que vê no chão ou ele próprio esgaravata.
Nalgumas vinhas próximas também é o espaço predileto do melro.
Gosto muito das suas melodias bucólicas ao longo de muitos minutos, em dias de chuva...


BLACKBIRD ou O QUARTO POEMA DO CAÇADOR

Um pássaro negro voava
Voava no meio do branco
Não sei se sombra ou palavra
Ou verso na página em branco.
Sei que era negro e voava
Voava no meio do branco.

Poema de Manuel Alegre

Respeitosos e humildes Cumprimentos

sexta-feira, 11 de março de 2011

A «VALENTE» morreu

Adeus «Valente»! Gatinha siamesa,

A mais linda do mundo talvez.

Levou-te a morte, mas ficas presa

Ao coração de nós os três!

Mara, Hortênsia, Elísio