quinta-feira, 17 de março de 2011

ORNITOLOGIA – Textos/Ilustrações (3)

O Amor pelas Aves (C)

Todavia, no dia seguinte, embora cautelosamente, eu fui lá vê-los mais duas vezes, e notava os pais cheios de raiva, passando por cima de mim e emitiam gritos estridentes que me assustava.
Mais consciente depois, deixei vários dias sem lá aparecer... ao meu ninho.
Quando regressei, encontrei o ninho vazio. Eles já tinham partido. Já voavam... e passei a ver muitos mais melros por aquela área, para minha alegria e consolação.
Se quisesse, tinha-os tirado mas, as palavras do “Mestre” Miguel Torga, para mim eram sagradas, mais do que a doutrina religiosa que aprendia:
No seu conto «Jesus», o menino subiu ao alto cedro e espreitou o ninho de pintassilgo. Só tinha um único ovo e ele de contente, pegou-lhe com delicadeza e deu-lhe um beijo.
Ao simples calor da sua boca, a casca estalara e nasceu um pintassilgo depenadinho.

Sei de um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo redondinho
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar este segredo
Comigo.
E depois ter um Amigo
Que faça o pino
A voar…a voar…

Agora, eu trazia no bolso um pedaço de boroa que desfazia no chão em migalhas para eles comerem e levarem para os filhos.
Sem saber, eu era um Naturalista. Também me foram surgindo nas minhas descobertas sobre os animais, coisas e situações que se iam tornando para mim místicos segredos, que só eu sabia!
Passados tantos anos, hoje deixo aqui uma ilustração sobre o melro, ave muito prolífera.

Família: MUSCICAPIDAE
Nome científico: Turdus Merula / Melro

É um pássaro fácil de distinguir, de uns 25 centímetros de comprimento. Tem voo um pouco pesado e em geral rasteiro, rente ao solo, nos nossos parques, jardins e campos cultivados. No chão, desloca-se aos saltinhos, em busca de comida.
O macho é escuro, de bico amarelo; as crias e a fêmea são mais russos. Não deixam ninguém aproximar-se, mas são mais tolerantes, na Primavera. Andam sempre dois ou três juntos, e fogem para dentro dos arbustos onde têm ninho. Os melros andam quase sempre a saltitar por entre as ramadas de kiwi da antiga Quinta de S. Felix, em busca de diversificado alimento.
Visita com muita frequência o meu quintal, ao longo das 4 estações, onde já chegou a criar, quando não havia por aqui gatos.
Devora toda a espécie de fruta que aqui nasce, desde laranjas, ameixas, limões, pêras, damascos, bem como toda a minhoca que vê no chão ou ele próprio esgaravata.
Nalgumas vinhas próximas também é o espaço predileto do melro.
Gosto muito das suas melodias bucólicas ao longo de muitos minutos, em dias de chuva...


BLACKBIRD ou O QUARTO POEMA DO CAÇADOR

Um pássaro negro voava
Voava no meio do branco
Não sei se sombra ou palavra
Ou verso na página em branco.
Sei que era negro e voava
Voava no meio do branco.

Poema de Manuel Alegre

Respeitosos e humildes Cumprimentos

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