quinta-feira, 7 de julho de 2011

À "laia" de AUSTERIDADE

Talvez a coisa mais triste
Que sente em toda a vida
É ver que em Portugal existe
Fome!... e a Esperança perdida!


(versos de António Aleixo)

Descreio dos que me apontem
Uma sociedade sã:
Isto é hoje o que foi ontem
E o que há-de ser amanhã.

Bate a fome à porta deles
E é lá mais mal recebida
Do que na casa daqueles
Que a sofreram toda a vida.

Envoltos em roupa suja,
A desfazer-se em pedaços,
Andam pobres à babuja
Dos meios-tostões dos ricaços.

Não me faças cumprimentos,
Deixa-te de hipocrisias:
O alívio aos sofrimentos
Não se dá com cortesias.

Sei que me hás-de compreender,
Porque, até nas entrelinhas,
Tu sabes ler, adivinhas,
O que não posso dizer.

Qu’ria que o mundo soubesse
Que a dor que tortura a vida
É quase sempre sentida
Por quem menos a merece.

Que o Mundo está mal, dizemos,
E vai de mal a pior;
E, afinal, nada fazemos
P’ra que ele seja melhor.

Que te curves, que te dobres,
Disto não podes fugir:
Há-de haver ricos e pobres
Enquanto o mundo existir!

Tanto da vida conheço
Que, ao ver o mundo tão torto,
Às vezes quando adormeço,
Desejava acordar morto.

Da guerra os grandes culpados,
Que espalham a dor na terra,
São os menos acusados
Como culpados da guerra.

Tu, que tanto prometeste
Enquanto nada podias,
Hoje que podes – esqueceste
Tudo quanto prometias...

Só quando a hipocrisia
Cair do seu pedestal,
Nascerá, dia após dia,
Um sol p’ra todos igual.

Vós que lá do vosso império
Prometeis um mundo novo,
Calai-vos que pode o Povo
Querer um mundo novo a sério!


Até qualquer dia
Aquele Abraço