segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A GEIRA ROMANA / VIA NOVA (1)

Gerês – 13 de Janeiro de 2007

Fotos originais de Filipe Pinto

A SERRA DO GERÊS

A aventura na Natureza já não tem limites. Não existem mares por explorar e continentes desconhecidos. Apesar das fronteiras geográficas terem caído, permanece ainda um imenso mundo natural que alguns querem descobrir.
Mesmo dentro do nosso país, muitos ouvem falar da Serra do Gerês mas, para eles é uma serra como tantas outras.
Para nós é a “Rainha das Serras”!
Nesta serra vive alguma gente, embora ao longo dos anos muitos tenham emigrado, fazendo com que, em parte pouco habitada pelo homem, conserve ainda um grande estado de pureza. Animais e plantas prosperam, para nossa consolação.

Há vestígios dos nossos antepassados e sentimos vontade de os descobrir e reviver.
Para os nossos percursos trazemos sempre aquele espírito de conseguirmos associar e desfrutar da componente física, cultural e paisagística, que enriquecem e fortalecem o corpo e a mente durante este salutar passatempo que são as caminhadas.
Todavia, o nosso Passeio de hoje tem outra componente mais marcante, mais misteriosa e por isso mais apetecível: a histórica!
Digo-vos que é necessário ter muita sensibilidade para sentir na pele os arrepios e a emoção que é percorrer a Geira Romana, esse importante testemunho com dois mil anos de história! – construída em condições precárias daquela época, que os nossos antepassados deixaram e o tempo fez chegar até aos dias de hoje.
Para mim, a Geira ou Via Nova ( a Via Militar Romana XVIII do Itenerário de Antonino ) inserida no Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG) é dos percursos mais fantásticos e mais belos!

Os troços da via que vamos hoje percorrer, desenrolam-se ao longo das vertentes meridionais do Vale do Rio Homem.
Vamos caminhar desde a Milha XXVIII na Freguesia de S. João do Campo até à Milha XXXIX no Lugar de Baños de Rio Caldo, Freguesia de Lobios / Espanha, onde existem as ruínas da “Aquis Originis”, a segunda “mansio” da Via Nova.
Esta Caminhada acontece cerca de DOIS MIL ANOS após a construção desta via.

Continua…

A GEIRA ROMANA / VIA NOVA (2)

Gerês – 13 de Janeiro de 2007

Vilarinho da Furna

Como homenagem às gentes que durante séculos viveram na desaparecida aldeia comunitária de Vilarinho da Furna, deixamos este importante poema do Mestre Miguel Torga


REQUIEM

Viam a luz nas palhas de um curral,
Criavam-se na serra a guardar gado.
À rabiça do arado,
A perseguir a sombra nas lavradas,
Aprendiam a ler
O alfabeto do suor honrado.
Até que se cansavam
De tudo o que sabiam,
E, gratos, recebiam
Sete palmos de paz num cemitério
E visitas e flores no dia de finados.
Mas, de repente, um muro de cimento
Interrompeu o canto
De um rio que corria
Nos ouvidos de todos.
E um “letes” de silêncio represado
Cobre de esquecimento
Esse mundo sagrado
Onde a vida era um rito demorado
E a morte um segundo nascimento.

Continua…

A GEIRA ROMANA / VIA NOVA (3)

Gerês – 13 de Janeiro de 2007

Um pouco de História

A ÉPOCA ROMANA

Nos limiares da era Cristã, Roma impõe definitivamente o seu domínio na Hispânia pela força de um exército poderoso e organizado.
Redistribuíram as terras conquistadas aos Bracaros e organizaram-nas administrativamente. O “latim” torna-se a língua dominante. Unifica-se o direito, a moeda, os padrões de peso e medidas e o próprio calendário.
Constroem-se cidades e vilas e a vida urbana renova hábitos de convivência social, com preferência pelos jogos de guerreiros e estâncias termais e multiplicam-se as necessidades de consumo. Mais tarde, grandes Imperadores como Caio Júlio César Octaviano Augusto, sobrinho e herdeiro de Júlio César, o máximo pontífice, transmitindo um diálogo de poder universal perante o Povo, cultivava-se intelectualmente em aulas de “retórica” (a arte de falar em público) transmitindo grandeza, sabedoria e progresso.

Mas, as primeiras vias daquele tempo não permitiam grandes deslocações entre Cidades e Vilas onde se edificavam anfiteatros e as “mansio”ou estâncias termais.
Com o rápido crescimento do Império nas antigas terras da Hispânia, houve necessidade de se criarem outras vias terrestres para a comunicação entre as Cidades e locais importantes daquele tempo.
Neste contexto foi então aberta uma VIA NOVA entre Bracara Augusta (Braga) e Asturica Augusta (Astorga), sob o domínio dos Flávios, na segunda metade do sec. I d. C. Esta via em toda a sua extensão entre Bracara e Asturica somava duzentas e trinta e cinco milhas, que perfaziam cerca de 318 km.
Sendo uma das estradas romanas mais bem preservadas, conservam-se ainda um grande numero de MILIÁRIOS que “balizavam” essas mesmas MILHAS.

Breve descrição das Milhas que percorremos

Convém lembrar que a milha romana equivalia a mil passos , cerca de 1500 metros.

Entre as milhas XXIV e XXXIX observam-se vários conjuntos de marcos miliários, somando um total de 91. Só na milha XXXI, conservam-se 21 marcos.
É de sublinhar que a VIA NOVA corre, neste trecho pela parte superior do Vale da Ribeira da Roda, alcançando a Veiga de Covide, e depois por uma depressão de origem tectónica (Campo de Gerês) o que lhe permite entrar no curso superior do Rio Homem, de uma forma directa.

Atravessando esta depressão, evita um longo percurso pela margem direita do rio Homem, ao longo do seu médio curso. As duas veigas de grande fertilidade – Veiga de Covide e Veiga de Campo do Geres, permitem ao caminhante contemplar uma paisagem rural típica do Minho e repousar da longa caminhada.
Retomando forças para percorrer as milhas que restam até alcançar a milha XXXIX, o viandante entra agora no curso superior do rio Homem, prosseguindo sempre ao longo da margem esquerda, contornando a base dos contrafortes setentrionais da Serra do Gerês. O trajecto entre as milhas XXX e XXXI é deveras singular pela sua riqueza arqueológica, o que permite observar todo um conjunto de vivências dos nossos antepassados.

Entre estas duas milhas é possível observar as ruínas de um edifício, escavado em 1992, em forma de rectângulo, aparelhado com pedra picada e bons alicerces, que poderá ter sido uma mutatio. Para além da mutatio, é ainda visível um troço original da via assente em grandes lages. Um pouco antes deste lajeado, na base da encosta, sobressai um penedo com pequenas cavidades rectangulares em linha e separadas por intervalos iguais, demonstrando a técnica usada para a extracção de blocos graníticos.

Ainda na Bica da Geira podemos encontrar um aglomerado de 21 miliários assinalando a milha XXXI.
Através da estrada florestal, resguardada por um belíssimo carvalhal, alcançamos a milha XXXII, na Volta do Covo, onde se regista um conjunto de 22 miliários.
Na Albergaria, um pouco adiante deste local, encontra-se o que resta de duas pequenas pontes romanas. Ao que tudo indica, a avaliar pelas escavações realizadas entre 1985 e 1987, no espaço entre as duas obras de arte, é possível que aqui tivesse existido uma instalação romana que poderia, eventualmente, ser um posto de controlo ou uma “statione”.
Entre a milha XXXII e a XXXIII, a via segue sem grandes oscilações de cota, por entre bosques, até junto da Ponte Feia onde se situava a milha XXXIII, assinalada por um aglomerado de 20 miliários.

Da milha XXXIII à milha XXXIV assinalamos alguns vestígios de uma pedreira de onde se extraíram os miliários desta milha e o material para a construção da Ponte de São Miguel.

O acesso à milha seguinte é feito pela margem direita do Rio Homem, tendo que atravessar este, pela ausência de ponte, pelas rochas junto à corrente, quando o caudal do rio permite.
Passando em frente a uma Casa Florestal, transpondo uma ribeira, alcança-se finalmente a milha XXXIV, balizada por 8 marcos miliários.


Na impossibilidade deve seguir-se pela estrada até à Portela do Homem.
Da fronteira da Portela do Homem abrem-se horizontes para o vale do Lima.
Já em território Espanhol, assinalamos, em Lama de Picón, local onde se localiza a milha XXXV, um miliário in sito e talvez uma possível mutatio.


Passando por Chã dos Pasteroques, milha XXXVI, onde se registam 5 miliários, por Pala Falsa, milha XXXVII e por Corgas da Fecha e de Agualevada, chegamos ao lugar de Baños, onde se localiza Aquae Originis, a segunda mansio da VIA NOVA, assinalando a milha XXXIX.


Baños de Rio Caldo, cujas águas termais eram muito procuradas pelos romanos, são hoje uma pequena localidade com alguma vivência turística, em resultado do balneário termal recentemente construído. As escavações arqueológicas realizadas no lugar do Covelo, perto das nascentes termais, puseram a descoberto vestígios arqueológicos pertencentes, muito provavelmente, à segunda mansio da VIA NOVA, assinalada no Itinerário de Antonino.

Continua…

A GEIRA ROMANA / VIA NOVA (4)

Gerês – 13 de Janeiro de 2007

Construção e manutenção da VIA NOVA

Na VIA NOVA o traçado foi cuidadosamente planeado por arquitectos, engenheiros e pelos “gromatici”, os topógrafos que, apesar dos utensílios rudimentares, já calculavam com exactidão as distâncias e os declives.
A VIA NOVA foi construída de tal modo que, apesar de cruzar um espaço montanhoso com serras que chegam aos dois mil metros, só em alguns troços pouco extensos, alcança 900 metros. Os miliários de Tito e Domiciano documentam a abertura da via. O granito e o xisto, que formam o substrato rochoso ao longo de grande parte do traçado da via, foram utilizados de forma abundante, nos pavimentos lajeados, nos muros de suporte, nas obras de arte e claro, nos miliários. Num contexto climático com alta pluviosidade, com pendores significativos, o traçado da VIA NOVA estava sujeito a processos erosivos intensos, justificando sucessivas obras de manutenção. Os miliários de Maximino e Máximo apresentam um texto muito expressivo, referindo o restauro de pontes e caminhos deteriorados pelo tempo.

A Pavimentação

Para se entender as características construtivas da VIA NOVA é necessário ter em conta o substrato rochoso da região, formado por diversos tipos de granito. Mantendo como objectivo primordial um traçado estável, sem grandes oscilações de cota, a engenharia romana adaptou o traçado de via às condições litológicas e geomorfológicas. Em muitos locais, nos troços de meia vertente, o substrato rochoso era aplanado, por forma a garantir uma superfície dura, sobre a qual se dispunham uma ou várias camadas de preparação, de grande robustez. Sobre esta camada assentavam dois tipos de pavimento. Nas zonas planas, o piso era de terra batida, misturando arenas e alterites, garantindo deste modo plasticidade e consistência. Nos declives observam-se calçadas de lajes irregulares. Noutros pontos a própria rocha terá funcionado como pavimento, talvez porque o grau de dureza não facilitava a sua desmontagem. Ao longo dos séculos o lajeado das calçadas foi sempre reparado, pelo que não se pode considerar que seja, integralmente, da época romana. Em muitos dos vários troços de calçada observáveis, no percurso da Geira, é fácil registar o desgaste variável das lajes, o diferente grau de polimento e a desigual profundidade dos sulcos dos carros. A VIA NOVA foi cuidada ao longo de séculos pelo que, ao lado de uma laje original, está uma outra colocada séculos depois.

O Traçado

O traçado da VIA NOVA tem sido objecto de estudo por inúmeros investigadores portugueses e espanhóis, desde o século XVIII. No seu conjunto estes estudos permitem esboçar o percurso deste caminho, nas suas grandes linhas.
Da cidade de Braga descia até ao rio Cávado, que transpunha no sítio da Barca de Ancêde. Depois, rumava a norte e trepava pelos últimos contrafortes da serra de Santa Isabel, ou da Abadia. Abandonava, assim, o vale do Cávado, prosseguindo pelas vertentes meridionais do vale do Rio Homem até Covide, onde entrava na Serra do Gerês. Atravessava a veiga de S. João de Campo e retomava o Vale do Rio Homem até à portela homónima. A partir daqui, descia pelo vale de Rio Caldo, onde se situava a mansio de Aquis Originis, continuando até ao vale do Lima que transpunha a jusante de Bande (mansio de Aquis Querquernnis). Daqui prosseguia para nordeste, ao longo da margem direita daquele rio, pela região da Baixa Limia até à Lagoa de Antelas, zona dominada pelo pequeno relevo onde ficava a mansio de Aquis Geminis e onde hoje se observam os restos do Castelo de Sandiás. Neste ponto rumava para norte até ao vale do Rio Arnoya, onde se localiza a mansio Salientibus. Depois retomava a direcção nordeste, trepando até ao altiplano de Trives, entrando assim no seu percurso mais acidentado. Nesta zona situavam-se duas mansiones: Praesidio (Burgo); Nemetobriga (Póboa de Trives). Em seguida cruzava, sucessivamente, os rios Návea, Bibei, onde se conserva intacta uma Ponte Romana, e o Sil, em Cigarrosa (mansio Foro Gigurrorum). Daqui subia para nordeste, ao longo do vale do Rio Sil e do seu afluente Entoma, atingindo, assim, a rica zona mineira de Bierzo (Bergidum Flavium). Daí cruzava os Montes de León, alcançando, deste modo, Asturica Augusta. Num percurso de 215 milhas, a VIA NOVA atravessava diferentes regiões naturais e diversas bacias hidrográficas, bem como distintos populi entre os quais referimos os Bracari, os Querquernni, os Limici, os Tamacani e os Gigurri.

No conjunto da rede viária do extenso império romano, o caminho entre Bracara Augusta (Braga) e Asturica Augusta (Astorga – Província de Léon), por Bergidum Flavium (Ponferrada), constitui um testemunho excepcional de uma época em que a Europa era um espaço comum. A construção da VIA NOVA, na segunda metade do século I d.C. reforçou a malha viária, permitindo o reordenamento territorial, a intensa actividade mineira, com destaque especial para o ouro, contribuindo a longo prazo para a emergência de uma entidade histórica que perdurou ao longo dos milénios: a Callaecia.

Continua…

A GEIRA ROMANA / VIA NOVA (5)

Gerês – 13 de Janeiro de 2007

A Paisagem

Numa pequena extensão a VIA NOVA, entre Amares e Lobios atravessa paisagens muito variadas, desde a zona urbana de Braga, com uma elevada densidade construtiva até à Mata de Albergaria, considerada uma reserva integral do Parque Nacional da Peneda-Gerês. O contexto paisagístico da VIA NOVA é, pois, excepcional, permitindo aos viajantes apreciar panorâmicas diversificadas, aprender a gostar da Natureza e conhecer a estrutura agrária da região.

O Cursus Publicus

A rede viária romana sustentava o funcionamento do Cursus Publicus, essencial ao bom governo do vasto império romano. Os três pilares do Cursus Publicus eram as mansiones, as mutationes e os miliários. As mansiones eram locais de descanso, onde os viandantes podiam comer, dormir, tomar banho e abastecer-se para prosseguir a viagem. As mutationes eram estações de muda, onde se podia trocar de cavalo. Situados à beira da via, estes equipamentos asseguravam o correio, a velocidade dos mensageiros, o trânsito de militares, de funcionários e de todos os caminhantes que, pelos mais variados motivos, percorriam as estradas. Os miliários balizavam a via, assinalando as distâncias aos "caput viarum", ou seja aos nós rodoviários. No caso do tramo da VIA NOVA entre Baños de Rio Caldo e Amares, os miliários marcavam a distância a Bracara Augusta.
Os testemunhos arqueológicos e literários do mundo romano sublinham que as deslocações eram normais e bastante vulgares na sociedade romana. Diversas razões, nesses tempos, tal como hoje, obrigavam a viajar. Entre os muitos motivos destacamos os de ordem profissional, religiosa, comércio, saúde, assim como os decorrentes de interesses de lazer, ou de cultura.

Viajantes

De entre os viajantes que terão percorrido a VIA NOVA, através dos tempos, referimos: Lucius Didius Marinus; Marcus Silonius Silanus; Tertia Flacilla; Quinto Ennius Asiaticus; Lucio Pompeio Reburro; Calaicus; Morinus; Quinto Licínio Vegeto; Popillius Hirsutus; Atilius Astur; Aelius Sporus; Iulius Flavinus; Vallius Maximus; Marcus Aemilius Lepidinus e Lucius Cornelius Placidus; Hidácio de Chaves.
Destacamos a inscrição de Vallius Maximus, considerando a especificidade das divindades tutelares a que é dedicado o altar.

Vallius Maximus

[LAR] IBUS/ [VIA] LIBUS/ [V] ALLIUS/ [M]AXIMUS/ EX VOTO
“Válio Máximo dedicou este altar aos Lares Viales”.Os Lares, divindades protectoras da família, dos caminhos e dos lugares, por vezes mesmo com tutela sobre uma colectividade, aparecem aqui sublinhados sob a forma de Viales. Desta forma, Válio Máximo, ao dedicar este altar em Santa Maria de Trives Vello, Ourense, terá percorrido uma parte do traçado da VIA NOVA.
Consolidação da Romanização e a abertura da VIA NOVA
A política de romanização do Noroeste é prosseguida sob os restantes imperadores da dinastia Júlio-Cláudio: Tibério (14-37 d.C.), Cláudio (37-41) e Nero (54-68). Com o assassinato deste último termina a primeira dinastia do Império Romano. No quadro da crise aberta pelo fim da referida dinastia, destaca-se a intervenção do governador da Hispania Citerior, Galba, que é aclamado imperador. Porém, Galba apenas reinará durante seis meses, pois também é morto. Todavia, a sua ascensão ao trono, embora efémera, assinala a importância crescente da Hispania no quadro do Império Romano.

A fechar um conturbado período de pouco mais de um ano em que se sucedem três efémeros imperadores, emergiu uma nova dinastia, a dos Flávios, fundada por um general de origem humilde, Vespasiano. Os textos de autores gregos e latinos, bem como os dados arqueológicos, demonstram que, sob o governo dos Flávios, a Hispania e o Noroeste Peninsular se inserem, definitivamente, no quadro da civilização romana. O imperador Vespasiano (69-74) concede o Ius Latius, que permite a determinados indígenas ascenderem à cidadania romana. Assiste-se à emergência de novos municípios (por exemplo, Aquae Flaviae e Iria Flavia), enquanto que outros centros urbanos se renovam e expandem. Verifica-se uma intensificação da actividade mineira e um crescimento global da economia.

Vem caminhar pela Geira e encontrarás um paraíso escondido e quase intacto!

Textos / Compilação: Elísio, C.M.Terras de Bouro, PNPG, A Geira.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O dia 14 de Fevereiro (1)

Dia dos Namorados e de S. Valentim

S. Valentim (Lenda)

As comemorações de 14 de Fevereiro, dia de S. Valentim e dia dos namorados, têm origem em crenças de antigos cultos de tradição cristã bem como de tradição romana e pagã.
A Igreja Católica reconhece três santos com o nome Valentim, mas o santo dos namorados julga-se que viveu no século III, em Roma e morrido como mártir no ano 270.
Em 496, o Papa Gelásio reservou o dia 14 de Fevereiro ao culto de S. Valentim.
A descrição Romana é, sem dúvida, a mais espectacular e que merece a compaixão de crente:

«Valentim era um sacerdote Cristão contemporâneo do imperador Cláudio II.
Cláudio queria constituir um exército romano grande e forte; não conseguindo levar muitos romanos a alistarem-se, acreditou que tal sucedia porque os homens não se dispunham a abandonar as suas mulheres e famílias para partirem para a guerra. E a solução que encontrou foi... proibir os casamentos dos jovens! Valentim ter-se-á revoltado contra a ordem do imperador e, ajudado por S. Mário, terá casado muitos jovens em segredo. Quando foi descoberto, logo foi preso, torturado e decapitado a 14 de Fevereiro.»

A lenda tem ainda algumas variantes que acrescentam pormenores a esta história. Segundo uma delas, enquanto estava na prisão Valentim era visitado pela filha de um guarda, com quem mantinha longas conversas e de quem se tornou amigo. No dia da sua morte, 14 de Fevereiro, ter-lhe-á deixado um bilhete dizendo apenas:
«Do teu Valentim»

Continua...

O dia 14 de Fevereiro (2)

Dia dos Namorados e de S. Valentim

Paraíso

Senti-me nua
Perante o silêncio
Do olhar.

Dois olhos,
Duas facas de desejo
A cortar a respiração,
Num único golpe. Profundo
E certeiro, no fundo
Do fundo de mim.

O corpo a vergar
Ao peso da vontade
De outro corpo,
Um portão que se abre
Para o paraíso.

E depois, a explosão
Dum pecado que mata
A sede e a fome.

Poema de Nadina Carvalho


Sugestão para uma bela prenda no Dia dos Namorados:

Livros da autoria de Nadina Carvalho

MEMÓRIAS DE UMA LUA

e

OS DIAS DO SILÊNCIO

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

06-01-2007 Trilho dos Miliários (1)

Cossourado e Rubiães – 11km / Circular

NOME DO PERCURSO - TRILHO DOS MILIÁRIOS
ENTIDADE PROMOTORA - MUNICÍPIO DE PAREDES DE COURA
TIPO DE PERCURSO - PEQUENA ROTA
ÂMBITO DO PERCURSO - HISTÓRICO / PAISAGÍSTICO
PONTO DE PARTIDA - IGREJA - COSSOURADO
DISTÂNCIA PERCORRIDA - 11 km
DURAÇÃO DO PERCURSO - 4 h 30 m
GRAU DE DIFICULDADE - FÁCIL
COTA MÁXIMA ATINGIDA - FORTE DA CIDADE 376 METROS

Partindo da Igreja de Cossourado, tomamos o caminho de calçada à portuguesa que surge à nossa direita e que desemboca numa estrada florestal para, a escassos metros, nos conduzir ao ponto mais alto deste percurso – o Forte da Cidade.
Este, constitui paragem obrigatória, quer pelo valor paisagístico, quer pelo indiscutível valor patrimonial arqueológico.

Neste ponto cimeiro, encontram-se vestígios de um povoado que testemunha a presença da cultura castreja do Noroeste Peninsular. Trata-se de um povoado fortificado da Idade do Ferro conhecido por Cividade de Cossourado, que, segundo os investigadores, parece ter sido abandonado antes do fenómeno da romanização.
O nome desta freguesia, provavelmente, teve origem na palavra “cossoiro” que constitui um elemento do fuso de tecelagem.
Voltando para trás, pelo mesmo caminho, viramos à direita, seguindo uma estrada florestal que nos conduzirá até ao lugar de Antas, da freguesia de Rubiães.

Aqui, numa pequena ermida, podemos apreciar vestígios da passagem romana – os marcos miliários - que indicavam as milhas romanas da via militar 19, do Itinerário de Antonino.

Deixando o lugar, vamos continuando caminho até ao rio Coura por uma paisagem bucólica, de singular beleza, onde os campos dão lugar a pequenos bosques de ribeira que marginam o rio.

Depois de passarmos a ponte dos Caniços, seguimos pela estrada municipal, para, passados poucos metros, voltamos à esquerda e seguirmos um caminho florestal que nos levará até ao lugar de Casco, da Freguesia de Rubiães.

Daqui seguimos até à Igreja Românica desta Freguesia.

Após uma curta paragem para observarmos este belo testemunho da arquitectura medieval, cruzamos a estrada para seguirmos em direcção ao lugar do Crasto.
Por entre campos, nos conduzirá a um conservado elemento arquitectónico de origem Romana : a Ponte Romano / Medieval de Rubiães.

Seguidamente, viramos à direita em direcção à estrada nacional 201.
Após passarmos por entre os campos de cultivo, damos com um pequeno bosque misto, que atravessamos.

Passado pouco tempo, voltamos novamente à estrada nacional 201, para, poucos metros à frente, virarmos à esquerda, seguindo o caminho que nos levará ao escadório da Igreja de Cossourado, precisamente no mesmo lugar onde teve início este passeio pelas remotas origens de Terras de Coyra.

Texto: Folheto Informativo C.M. Paredes de Coura
Continua...

06-01-2007 Trilho dos Miliários (2)

Cossourado e Rubiães – 11km / Circular

O Castro de Cossourado

O Castro de Cossourado situa-se num dos extremos dos cumes montanhosos que separam os vales dos rios Minho e Coura (Serra da Salgosa).
Fica sobranceiro ao vale do rio Coura, na sua margem norte, dominando uma zona aberta, resultante de um eixo de fractura tectónica que forma um corredor de circulação (Norte Sul) de grande relevância no quadro geográfico de Entre Douro e Minho.O povoado situa - se no lugar do Forte da Cidade, na freguesia de Cossourado. Tem acesso automóvel pela auto-estrada A3, com saída no nó de Vila Nova de Cerveira/ Paredes de Coura, e pela EN 303. Nesta estrada vira-se ao km 6, por um caminho municipal em direcção à Igreja Paroquial do Cossourado, subindo-se para o castro por uma estrada que existe por detrás do cemitério. Deste ponto inicia-se a subida ao monte que a partir dos 300 m passa a ter pavimento de terra batida. Após cerca de 15 minutos de caminhada, a partir da estrada asfaltada, chega-se ao povoado.
À superfície deste grande povoado, no espaço delimitado pela muralha interna, podem, actualmente, ser observadas várias construções de tamanho e planta irregulares.
Trata-se de estruturas habitacionais e de reunião comunitária, maioritariamente circulares e de dimensões médias, associadas a outras com função agro-pastoril e artesanal, de configuração oblonga e grandes dimensões. Nestas construções, foi recolhido material muito variado, que testemunha a prática de diversas actividades económicas e a organização socio-económica desta comunidade.Ocupando uma superfície total de cerca de dez hectares, o povoado possui duas linhas defensivas que circundam a totalidade da área habitacional, e uma terceira, a Oeste, construída para melhor defender esta zona, de declive menos acentuado.A ocupação deste povoado terá ocorrido entre os séculos V e II a. C., não tendo, os dados até ao momento, revelado grandes influências da ocupação romana nem reocupações de épocas posteriores. Na base do monte do Cossourado, foi construída, mais tarde, uma das principais vias romanas, que ligava Bracara Augusta (Braga) a Lucus Augusti (Lugo).

Texto: http://www.castrenor.com/


Continua...

06-01-2007 Trilho dos Miliários (3)

Cossourado e Rubiães – 11km / Circular

Os marcos miliários de S. Bartolomeu de Antas

Desde o século passado, pelo menos, são conhecidos dos epigrafistas alguns marcos miliários, existentes no adro da Capela de S. Bartolomeu de Antas, Concelho de Coura.
Argote tinha notícia de dois, e transcreve e traduz as inscrições neles gravadas, segundo uma cópia que lhe forneceram; mas a cópia é má, e a tradução ainda pior.
Explica-se mal, por exemplo, que deixando imprimir na sua obra (II, 620) o nome de MAGENTIO ele traduza Decencio.
A sexta linha, onde lia: P.º T. C., e onde só pode ler-se: P. F. (Pio Felici), diz Argote que a não percebia; e não admira isso, atenta a pouca fidelidade, de que dá provas o seu informador em tudo o que lhe comunica.
O sr. E. Hübner, reproduzindo esta inscrição, e tentando completá-la no que ela tem de deficiente e obscura, não foi extremamente feliz, comparando o n.0 4744 das Inscriptiones Hispanice Latinæ com a seguinte cópia, cuja autenticidade verificámos:

D. N.
MAGNO
MAGNENTIO
IMPERATORI
AVG.
P. F.
BNRPN
XXXI

Por um erro desculpável num estrangeiro, decerto por confundir S. Tiago de Antas com S. Bartolomeu de Antas, o sr. Hübner dá também os dois padrões, como miliários da estrada de Lisboa a Braga, sem fazer reparo nas indicações positivas de Argote.
A crer as informações recebidas pelo nosso antiquário, os dois marcos existiriam primeiro “no alto do monte por onde corria a via militar de Braga para Tui”, e só mais tarde é que seriam transferidos para a capela de S. Bartolomeu.
Argote ignorava porém o nome do monte. Em compensação, outro antiquário, J. A. de Almeida, de Valença do Minho, dá-nos notícias circunstanciadas sobre o monte, asseverando ao mesmo
tempo que as letras das colunas se achavam em tal estado, que “mal se podiam ler” — o que prova que só por tradição as conheceu. Depois de nos descrever as ruínas que se encontram no monte (Cossourado), Almeida perfilha as ideias doutros escritores, que viam ali uma fortificação, de que os romanos se serviram, para “proteger a marcha dos comboios para os exércitos, com que vieram conquistar Braga”.
Estranho itinerário, que obrigava os conquistadores a aproximarem-se de Tui, para depois desandarem até Braga.
Demais a velha fortificação, que os vizinhos do monte ainda hoje qualificam de a cidade”, seria nada menos que a pátria de Teodósio Grande, a cidade de Cauca. Verdade é que a cidade de Cauca, pelo que nos contam os geógrafos antigos, pertencia aos Vacceus, que têm pouco que ver com o Cossourado; mas o que fundamentava principalmente aquela opinião era que o nome de Coura, que o concelho, a que “cidade” pertence, tira certamente do rio que o atravessa, foi primitivamente Caura, e Caura é uma corrupção de Cauca, segundo estes intérpretes. Além de Cauca, Caura e Coura, a povoação, depois de arrasada pelos árabes, passou por um novo crisma e ficou a chamar-se Arnoia.
Apontámos estas extravagâncias, porque ainda hoje há leitores que as tomam a sério. O certo porém, embora isso repugne à nossa boa vontade de ler no passado, como lia Brito e a sua escola, o certo é que as ruínas do Cossourado nada mais são do que vestígios, e por sinal que bem apagados, duma estação de origem pré-romana, como tantas outras que se encontram a cada passo nos nossos montes, e acerca das quais não sabemos absolutamente nada.
Na plana das mais notícias está a que o coreógrafo de Valença, de acordo com Argote, nos dá sobre a direcção da estrada “que corria pelo monte”, e por consequência a afirmativa de ambos de que os marcos foram daqui levados para S. Bartolomeu de Antas, onde os vemos agora.
A estrada passava a sul do Cossourado, pela freguesia vizinha de Rubiães.
Uma última inexactidão a notar é que os marcos são cinco, não dois. Neste ponto porém a censura seria mal cabida, e aqui está a razão: os cinco marcos sustentavam a armação dum telhado que cobre o adro da capela; três estão à vista, mas um deles tem as letras tão obliteradas, que só depois dum exame muito minucioso é que se pode afirmar que as teve algum dia. O quarto e quinto, que ficam do lado do sul, estão incorporados numa parede que sobe até ao travejamento e que tem por fim, parece, evitar que os devotos sejam fustigados pelo vendaval, que sem este obstáculo varejaria o adro de lado a lado.
Dantes o reboco da parede cobria os dois padrões nela encravados, e só depois que a crosta da cal foi caindo aos pedaços, se tornou possível dar pela existência deles.
As inscrições, que contêm os dois marcos, não podem ser estudadas sem o trabalho preparatório de os isolar da parede que os abraça em quase toda a circunferência. Felizmente deste trabalho
encarregaram-se os nossos amigos José Maria Pestana, juiz de direito em Paredes de Coura e o doutor Narciso Alves da Cunha, de Formariz.
A tarefa está em boas mãos; e não só os dois marcos até hoje desconhecidos, mas um dos dois outros, de que Argote apenas publicou algumas poucas linhas e por ora indecifrável, já se dirá por que, nos revelarão brevemente os seus segredos.
Este último, donde sem dúvida foi copiada a inscrição incompleta, que se vê nas Inscriptiones Hispaniæ Latinæ, n.º 4745, fica próximo do cunhal direito da capela, e compõe-se de dois fragmentos, sobrepostos um ao outro, para ganhar a altura da trave, de que são sustentáculo. O fragmento superior não tem letras nenhumas; o inferior está carregado delas; mas por enquanto a leitura completa, da inscrição é quase impossível, tanto porque os seus caracteres estão cheios de terra e musgo, e de pernas para o ar, como porque alguns deles se acham soterrados, como a parte do marco em que estão insculpidos.

Texto: CasadeSarmento/Centro Estudos do Património-Univ.Minho

Continua...

06-01-2007 Trilho dos Miliários (4)

Cossourado e Rubiães – 11km / Circular

Aquilino Ribeiro
Terras do Demo – Terra de Homens
(Um paraíso distante!)


«Um dia um homem pegou no seu bordão e partiu a correr as sete partidas do mundo. Andou, andou até que foi dar a uma terra de que ninguém faz ideia: "a gente comia calhaus e ladrava como os cães".
Terras do Demo se chamou a estas terras: SOUTOSA, MOIMENTA DA BEIRA, V. N. DE PAIVA.
Nesta pátria estranha, nenhum rei passou em seu governo.
Esta história começa desde o princípio do mundo, desde os animais primitivos.
Fala dos homens e da terra... "Barulhenta, valerosa, suja, sensual, avara, honrada, com todos os sentimentos e instintos que constituíam o empedrado da comuna antiga".
Os homens são camponeses e pastores quase todos. Regam com suor a terra ou dormem no monte com as ovelhas. Medem-se pelo trigo, cumprindo promessas e correm com os gados à volta de capelas que encobrem grutas onde a divindade se revelou a uma criança.
Nascem e morrem como o dia e a noite.
Desdobram a vida como a Mãe-Natureza faz com as estações.
Partilham o pão com os mendigos e os peregrinos. Vigiam as fronteiras indecisas que se abrem à senha de almocreves, às vozes dos senhores padres, aos empurrões da Justiça e da Fazenda, que se abrem mal aos passos do mestre-escola.
Têm as feiras e as romarias para seu encontro. E a festa do orago. E os balcões da taberna. E os serões. E as noites de inverno em casa, e os lumes da urze.
E os caminhos sombreados de castanheiros antigos e a mansidão dos pinheirais.
E o coração que salta no peito sempre que chega o tempo do amor.
E ciúme, facadas, um corpo levado numa manta e os choros das mulheres.
Quando a terra se arma em madrasta os homens, às vezes, fogem...
São mais os novos. Uns, rumam ao Brasil. Outros vão para Franças e Araganças.
Vão e vêm, conforme a sorte. Terras do Demo! ... estas serras bárbaras, situadas longe do tumulto civilizacional, abandonadas ao seu lado primitivo!
A vida dos homens cumprida, como saga contada por um “Mestre” atento e comovido.
A vida feita Via Sinuosa que conduz ao Paraíso.»

Do livro: “Terras do Demo” / Compilação…mas Aquilino Ribeiro suspendeu a crónica já num tempo em que o Paraíso ficava distante... era 1918.

Naqueles anos, durante os meses de Verão, Aquilino vinha de Lisboa para desfrutar do seu “paraíso de inspiração” em Paredes de Coura, na célebre “Casa Grande de Romarigães” onde criou e eternizou várias obras, os seus “Jardins das Tormentas”…