Continuam as notícias "poderosas" sobre este monumental empreendimento turístico de Arouca.
(pena são os incêndios que devoram toda a biodiversidade e voltaram a afetar parcialmente a estrutura do trilho!)
Baú de Recordações por…
“Esses caminhos que andei”
O Paiva e a “Lucy”
Outro dos meus lugares de encanto, junto do Paiva, é na
Aldeia da Paradinha, Alvarenga-Arouca, uma singela "Aldeia de Xisto" com a sua fascinante praia-fluvial, de águas em caldo, tão
apetecidas, como eram tão merecidas dum verdadeiro amante da Natureza
apaixonado pelos recantos escondidos deste nosso lindo Portugal, sempre
admirado e penitenciado pelas “bacias hidrográficas” e tudo ao seu redor.
Conheci esta aldeia na década de oitenta, do passado século.
Desci até onde pude, com a “jubiraca” 4L emprestada e deparei-me com uma aldeia
toda em ruínas, sem nenhum habitante. Fui até ao rio e tomou-se um daqueles
banhos de água em caldo, que nunca mais esquece. Sem ninguém! E nunca mais de
saiu esta ideia do pensamento: eu hei-de voltar a este paraíso!
Só não sei onde param as
fotos que tirei na máquina de rolo, para vos deixar aqui.
Anos mais tarde, havia melhorado um pouco a vida e já tinha
um Xamade mais espaçoso e a dar garantias de motor, sem receio de ficar para o outro dia,
numa tenda. Ainda se apeava p’ra aí a 150 metros do Paiva e tinha que passar
por sobre mato, giestas e urtigais, sempre a malhar. Era aventura!
Eu chegava e recostava-me a uma sombra a ler um livro que na
véspera tinha metido na mochila – este local convidava sempre ao prazer do
remanso, num silêncio apenas quebrado pelo som imaculado das águas do meu
Paiva, que sempre achei ter necessidade de conjugar a essa harmonia da
natureza, as letras desses fascinantes livros de poesia que ainda tinha e me transportam para
o mundo do sonho, da fantasia, da renúncia à civilização e consequentemente da
almejada paz que procurava.
Foram vários os fins-de-semana que passavam sempre nessa
feição divinal.
Numa das épocas, quando chego ao deslumbrante miradouro, reparei
que a aldeia estava a ser recuperada e já havia turistas ou quem tenha comprado
e recuperado o imóvel. Havia um vigilante, que chamou à atenção para o cuidado
a ter com o fogareiro dos nossos agradáveis grelhados de vitela arouquesa. E
que levasse o lixo comigo ou deixasse no caixote que está junto à casa da
caveira, assim percebi. Eu levo sempre comigo, disse-lhe e só mais tarde
compreendi que se referia à “Casa Cabeira” que é a primeira quem vem do rio.
Mas, um dia, esse premeditado sossego acabou, quando um
casal de turistas vieram passar um mês de férias em turismo rural na então
recentemente recuperada aldeia, e trouxeram consigo aquela que considerei até
hoje ser bem mais apaixonada que eu pelo Paiva, essa inquieta e maravilhosa
cadela de nome “lucy”. Ela tinha uma vida e uma paixão pela água, que depois de
me render às suas brincadeiras ininterruptas, às suas diabruras, os
fins-de-semana daquele mês nunca mais naquele lugar foram o bucolismo que era.
Brincava com ela e atirava-lhe um páu para a água vezes sem
conta. Ela ía buscar e pousava à minha frente para voltar a atirar e p’ra mais
longe, assim me parecia. Eu cansava-me do jogo e ía deitar-me um pouco na relva
mas… ó dormes, qual quê… vinha logo lamber-me a cara e a latir em tristeza,
como que a chamar para continuarmos o jogo que o majestoso Paiva proporcionava.
Só ao fim se várias horas e da insistência da patroa para ir embora é que ela,
embora aos zig-zags e sempre a olhar para trás, lá ía, como que dizendo:
- De tarde estou cá outra vez, não te livras de mim, pá!
Quando naquele posterior fim-de-semana ela não apareceu,
embora não sendo minha, eu notei a falta das suas diabruras, do seu carinho, do
seu chamamento, da companhia que me proporcionou e nunca vou esquecer. Senti,
cá no fundo, que tinha acabado de perder …um amigo(a)!
Hoje, julgo que nada melhor, para terminar esta minha humilde
história, deixar-vos este maravilhoso e sentido poema de Belmiro Braga, que
sempre me emocionou quando o releio:
AMIGO CACHORRO
Pela estrada
da vida, subi morros,
desci ladeiras
e afinal te digo:
se entre
amigos encontrei cachorros,
entre
cachorros encontrei-te amigo.
Hoje para
xingar alguém,
recorro a
outros nomes feios,
pois entendi
que elogio a quem chamo de cachorro
desde que este
cachorro conheci!
Poema de
Belmiro Braga – BRASIL
Aquele Abraço