quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Passadiços do Paiva - Arouca (3)

Continuam as notícias "poderosas" sobre este monumental empreendimento turístico de Arouca.



(pena são os incêndios que devoram toda a biodiversidade e voltaram a afetar parcialmente a estrutura do trilho!)





Baú de Recordações por…

“Esses caminhos que andei”




O Paiva e a “Lucy”

Outro dos meus lugares de encanto, junto do Paiva, é na Aldeia da Paradinha, Alvarenga-Arouca, uma singela "Aldeia de Xisto" com a sua fascinante praia-fluvial, de águas em caldo, tão apetecidas, como eram tão merecidas dum verdadeiro amante da Natureza apaixonado pelos recantos escondidos deste nosso lindo Portugal, sempre admirado e penitenciado pelas “bacias hidrográficas” e tudo ao seu redor.



Conheci esta aldeia na década de oitenta, do passado século. Desci até onde pude, com a “jubiraca” 4L emprestada e deparei-me com uma aldeia toda em ruínas, sem nenhum habitante. Fui até ao rio e tomou-se um daqueles banhos de água em caldo, que nunca mais esquece. Sem ninguém! E nunca mais de saiu esta ideia do pensamento: eu hei-de voltar a este paraíso!
Só não sei onde param as fotos que tirei na máquina de rolo, para vos deixar aqui.



Anos mais tarde, havia melhorado um pouco a vida e já tinha um Xamade mais espaçoso e a dar garantias de motor, sem receio de ficar para o outro dia, numa tenda. Ainda se apeava p’ra aí a 150 metros do Paiva e tinha que passar por sobre mato, giestas e urtigais, sempre a malhar. Era aventura!
Eu chegava e recostava-me a uma sombra a ler um livro que na véspera tinha metido na mochila – este local convidava sempre ao prazer do remanso, num silêncio apenas quebrado pelo som imaculado das águas do meu Paiva, que sempre achei ter necessidade de conjugar a essa harmonia da natureza, as letras desses fascinantes livros de poesia que ainda tinha e me transportam para o mundo do sonho, da fantasia, da renúncia à civilização e consequentemente da almejada paz que procurava.
Foram vários os fins-de-semana que passavam sempre nessa feição divinal.



Numa das épocas, quando chego ao deslumbrante miradouro, reparei que a aldeia estava a ser recuperada e já havia turistas ou quem tenha comprado e recuperado o imóvel. Havia um vigilante, que chamou à atenção para o cuidado a ter com o fogareiro dos nossos agradáveis grelhados de vitela arouquesa. E que levasse o lixo comigo ou deixasse no caixote que está junto à casa da caveira, assim percebi. Eu levo sempre comigo, disse-lhe e só mais tarde compreendi que se referia à “Casa Cabeira” que é a primeira quem vem do rio.



Mas, um dia, esse premeditado sossego acabou, quando um casal de turistas vieram passar um mês de férias em turismo rural na então recentemente recuperada aldeia, e trouxeram consigo aquela que considerei até hoje ser bem mais apaixonada que eu pelo Paiva, essa inquieta e maravilhosa cadela de nome “lucy”. Ela tinha uma vida e uma paixão pela água, que depois de me render às suas brincadeiras ininterruptas, às suas diabruras, os fins-de-semana daquele mês nunca mais naquele lugar foram o bucolismo que era.






Brincava com ela e atirava-lhe um páu para a água vezes sem conta. Ela ía buscar e pousava à minha frente para voltar a atirar e p’ra mais longe, assim me parecia. Eu cansava-me do jogo e ía deitar-me um pouco na relva mas… ó dormes, qual quê… vinha logo lamber-me a cara e a latir em tristeza, como que a chamar para continuarmos o jogo que o majestoso Paiva proporcionava. Só ao fim se várias horas e da insistência da patroa para ir embora é que ela, embora aos zig-zags e sempre a olhar para trás, lá ía, como que dizendo:
- De tarde estou cá outra vez, não te livras de mim, pá!















Quando naquele posterior fim-de-semana ela não apareceu, embora não sendo minha, eu notei a falta das suas diabruras, do seu carinho, do seu chamamento, da companhia que me proporcionou e nunca vou esquecer. Senti, cá no fundo, que tinha acabado de perder …um amigo(a)!



Hoje, julgo que nada melhor, para terminar esta minha humilde história, deixar-vos este maravilhoso e sentido poema de Belmiro Braga, que sempre me emocionou quando o releio:

AMIGO CACHORRO

Pela estrada da vida, subi morros,
desci ladeiras e afinal te digo:
se entre amigos encontrei cachorros,
entre cachorros encontrei-te amigo.
Hoje para xingar alguém,
recorro a outros nomes feios,
pois entendi 
que elogio a quem chamo de cachorro
desde que este cachorro conheci!

Poema de Belmiro Braga – BRASIL

Aquele Abraço

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