Não ouvir nem ver
Porque o melhor, enfim,
É não ouvir nem ver…
Passarem sobre mim
E nada me doer!
- Sorrindo interiormente,
Coas pálpebras cerradas,
Às águas da torrente
Já tão longe passadas. –
Rixas, tumultos, lutas,
Não me fazerem dano…
Alheio às vãs labutas,
Às estações do ano.
Passar o estio, o Outono,
A poda, a cava e a redra,
E eu dormindo um sono
Debaixo duma pedra.
E sob a terra firme,
Compacta, recalcada,
Muito quietinho. A rir-me
E não me doer nada.
Poema de Camilo Pessanha
(1867-1926) Clépesidra
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