Os marcos miliários de S. Bartolomeu de Antas
Desde o século passado, pelo menos, são conhecidos dos epigrafistas alguns marcos miliários, existentes no adro da Capela de S. Bartolomeu de Antas, Concelho de Coura.
Argote tinha notícia de dois, e transcreve e traduz as inscrições neles gravadas, segundo uma cópia que lhe forneceram; mas a cópia é má, e a tradução ainda pior.
Explica-se mal, por exemplo, que deixando imprimir na sua obra (II, 620) o nome de MAGENTIO ele traduza Decencio.
A sexta linha, onde lia: P.º T. C., e onde só pode ler-se: P. F. (Pio Felici), diz Argote que a não percebia; e não admira isso, atenta a pouca fidelidade, de que dá provas o seu informador em tudo o que lhe comunica.
O sr. E. Hübner, reproduzindo esta inscrição, e tentando completá-la no que ela tem de deficiente e obscura, não foi extremamente feliz, comparando o n.0 4744 das Inscriptiones Hispanice Latinæ com a seguinte cópia, cuja autenticidade verificámos:
D. N.
MAGNO
MAGNENTIO
IMPERATORI
AVG.
P. F.
BNRPN
XXXI
Argote tinha notícia de dois, e transcreve e traduz as inscrições neles gravadas, segundo uma cópia que lhe forneceram; mas a cópia é má, e a tradução ainda pior.
Explica-se mal, por exemplo, que deixando imprimir na sua obra (II, 620) o nome de MAGENTIO ele traduza Decencio.
A sexta linha, onde lia: P.º T. C., e onde só pode ler-se: P. F. (Pio Felici), diz Argote que a não percebia; e não admira isso, atenta a pouca fidelidade, de que dá provas o seu informador em tudo o que lhe comunica.
O sr. E. Hübner, reproduzindo esta inscrição, e tentando completá-la no que ela tem de deficiente e obscura, não foi extremamente feliz, comparando o n.0 4744 das Inscriptiones Hispanice Latinæ com a seguinte cópia, cuja autenticidade verificámos:
D. N.
MAGNO
MAGNENTIO
IMPERATORI
AVG.
P. F.
BNRPN
XXXI
Por um erro desculpável num estrangeiro, decerto por confundir S. Tiago de Antas com S. Bartolomeu de Antas, o sr. Hübner dá também os dois padrões, como miliários da estrada de Lisboa a Braga, sem fazer reparo nas indicações positivas de Argote.
A crer as informações recebidas pelo nosso antiquário, os dois marcos existiriam primeiro “no alto do monte por onde corria a via militar de Braga para Tui”, e só mais tarde é que seriam transferidos para a capela de S. Bartolomeu.
Argote ignorava porém o nome do monte. Em compensação, outro antiquário, J. A. de Almeida, de Valença do Minho, dá-nos notícias circunstanciadas sobre o monte, asseverando ao mesmo
tempo que as letras das colunas se achavam em tal estado, que “mal se podiam ler” — o que prova que só por tradição as conheceu. Depois de nos descrever as ruínas que se encontram no monte (Cossourado), Almeida perfilha as ideias doutros escritores, que viam ali uma fortificação, de que os romanos se serviram, para “proteger a marcha dos comboios para os exércitos, com que vieram conquistar Braga”.
Estranho itinerário, que obrigava os conquistadores a aproximarem-se de Tui, para depois desandarem até Braga.
Demais a velha fortificação, que os vizinhos do monte ainda hoje qualificam de a cidade”, seria nada menos que a pátria de Teodósio Grande, a cidade de Cauca. Verdade é que a cidade de Cauca, pelo que nos contam os geógrafos antigos, pertencia aos Vacceus, que têm pouco que ver com o Cossourado; mas o que fundamentava principalmente aquela opinião era que o nome de Coura, que o concelho, a que “cidade” pertence, tira certamente do rio que o atravessa, foi primitivamente Caura, e Caura é uma corrupção de Cauca, segundo estes intérpretes. Além de Cauca, Caura e Coura, a povoação, depois de arrasada pelos árabes, passou por um novo crisma e ficou a chamar-se Arnoia.
Apontámos estas extravagâncias, porque ainda hoje há leitores que as tomam a sério. O certo porém, embora isso repugne à nossa boa vontade de ler no passado, como lia Brito e a sua escola, o certo é que as ruínas do Cossourado nada mais são do que vestígios, e por sinal que bem apagados, duma estação de origem pré-romana, como tantas outras que se encontram a cada passo nos nossos montes, e acerca das quais não sabemos absolutamente nada.
Na plana das mais notícias está a que o coreógrafo de Valença, de acordo com Argote, nos dá sobre a direcção da estrada “que corria pelo monte”, e por consequência a afirmativa de ambos de que os marcos foram daqui levados para S. Bartolomeu de Antas, onde os vemos agora.
A estrada passava a sul do Cossourado, pela freguesia vizinha de Rubiães.
Uma última inexactidão a notar é que os marcos são cinco, não dois. Neste ponto porém a censura seria mal cabida, e aqui está a razão: os cinco marcos sustentavam a armação dum telhado que cobre o adro da capela; três estão à vista, mas um deles tem as letras tão obliteradas, que só depois dum exame muito minucioso é que se pode afirmar que as teve algum dia. O quarto e quinto, que ficam do lado do sul, estão incorporados numa parede que sobe até ao travejamento e que tem por fim, parece, evitar que os devotos sejam fustigados pelo vendaval, que sem este obstáculo varejaria o adro de lado a lado.
Dantes o reboco da parede cobria os dois padrões nela encravados, e só depois que a crosta da cal foi caindo aos pedaços, se tornou possível dar pela existência deles.
As inscrições, que contêm os dois marcos, não podem ser estudadas sem o trabalho preparatório de os isolar da parede que os abraça em quase toda a circunferência. Felizmente deste trabalho
encarregaram-se os nossos amigos José Maria Pestana, juiz de direito em Paredes de Coura e o doutor Narciso Alves da Cunha, de Formariz.
A tarefa está em boas mãos; e não só os dois marcos até hoje desconhecidos, mas um dos dois outros, de que Argote apenas publicou algumas poucas linhas e por ora indecifrável, já se dirá por que, nos revelarão brevemente os seus segredos.
Este último, donde sem dúvida foi copiada a inscrição incompleta, que se vê nas Inscriptiones Hispaniæ Latinæ, n.º 4745, fica próximo do cunhal direito da capela, e compõe-se de dois fragmentos, sobrepostos um ao outro, para ganhar a altura da trave, de que são sustentáculo. O fragmento superior não tem letras nenhumas; o inferior está carregado delas; mas por enquanto a leitura completa, da inscrição é quase impossível, tanto porque os seus caracteres estão cheios de terra e musgo, e de pernas para o ar, como porque alguns deles se acham soterrados, como a parte do marco em que estão insculpidos.
Texto: CasadeSarmento/Centro Estudos do Património-Univ.Minho
A crer as informações recebidas pelo nosso antiquário, os dois marcos existiriam primeiro “no alto do monte por onde corria a via militar de Braga para Tui”, e só mais tarde é que seriam transferidos para a capela de S. Bartolomeu.
Argote ignorava porém o nome do monte. Em compensação, outro antiquário, J. A. de Almeida, de Valença do Minho, dá-nos notícias circunstanciadas sobre o monte, asseverando ao mesmo
tempo que as letras das colunas se achavam em tal estado, que “mal se podiam ler” — o que prova que só por tradição as conheceu. Depois de nos descrever as ruínas que se encontram no monte (Cossourado), Almeida perfilha as ideias doutros escritores, que viam ali uma fortificação, de que os romanos se serviram, para “proteger a marcha dos comboios para os exércitos, com que vieram conquistar Braga”.
Estranho itinerário, que obrigava os conquistadores a aproximarem-se de Tui, para depois desandarem até Braga.
Demais a velha fortificação, que os vizinhos do monte ainda hoje qualificam de a cidade”, seria nada menos que a pátria de Teodósio Grande, a cidade de Cauca. Verdade é que a cidade de Cauca, pelo que nos contam os geógrafos antigos, pertencia aos Vacceus, que têm pouco que ver com o Cossourado; mas o que fundamentava principalmente aquela opinião era que o nome de Coura, que o concelho, a que “cidade” pertence, tira certamente do rio que o atravessa, foi primitivamente Caura, e Caura é uma corrupção de Cauca, segundo estes intérpretes. Além de Cauca, Caura e Coura, a povoação, depois de arrasada pelos árabes, passou por um novo crisma e ficou a chamar-se Arnoia.
Apontámos estas extravagâncias, porque ainda hoje há leitores que as tomam a sério. O certo porém, embora isso repugne à nossa boa vontade de ler no passado, como lia Brito e a sua escola, o certo é que as ruínas do Cossourado nada mais são do que vestígios, e por sinal que bem apagados, duma estação de origem pré-romana, como tantas outras que se encontram a cada passo nos nossos montes, e acerca das quais não sabemos absolutamente nada.
Na plana das mais notícias está a que o coreógrafo de Valença, de acordo com Argote, nos dá sobre a direcção da estrada “que corria pelo monte”, e por consequência a afirmativa de ambos de que os marcos foram daqui levados para S. Bartolomeu de Antas, onde os vemos agora.
A estrada passava a sul do Cossourado, pela freguesia vizinha de Rubiães.
Uma última inexactidão a notar é que os marcos são cinco, não dois. Neste ponto porém a censura seria mal cabida, e aqui está a razão: os cinco marcos sustentavam a armação dum telhado que cobre o adro da capela; três estão à vista, mas um deles tem as letras tão obliteradas, que só depois dum exame muito minucioso é que se pode afirmar que as teve algum dia. O quarto e quinto, que ficam do lado do sul, estão incorporados numa parede que sobe até ao travejamento e que tem por fim, parece, evitar que os devotos sejam fustigados pelo vendaval, que sem este obstáculo varejaria o adro de lado a lado.
Dantes o reboco da parede cobria os dois padrões nela encravados, e só depois que a crosta da cal foi caindo aos pedaços, se tornou possível dar pela existência deles.
As inscrições, que contêm os dois marcos, não podem ser estudadas sem o trabalho preparatório de os isolar da parede que os abraça em quase toda a circunferência. Felizmente deste trabalho
encarregaram-se os nossos amigos José Maria Pestana, juiz de direito em Paredes de Coura e o doutor Narciso Alves da Cunha, de Formariz.
A tarefa está em boas mãos; e não só os dois marcos até hoje desconhecidos, mas um dos dois outros, de que Argote apenas publicou algumas poucas linhas e por ora indecifrável, já se dirá por que, nos revelarão brevemente os seus segredos.
Este último, donde sem dúvida foi copiada a inscrição incompleta, que se vê nas Inscriptiones Hispaniæ Latinæ, n.º 4745, fica próximo do cunhal direito da capela, e compõe-se de dois fragmentos, sobrepostos um ao outro, para ganhar a altura da trave, de que são sustentáculo. O fragmento superior não tem letras nenhumas; o inferior está carregado delas; mas por enquanto a leitura completa, da inscrição é quase impossível, tanto porque os seus caracteres estão cheios de terra e musgo, e de pernas para o ar, como porque alguns deles se acham soterrados, como a parte do marco em que estão insculpidos.
Texto: CasadeSarmento/Centro Estudos do Património-Univ.Minho
Continua...
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