REGRESSO
Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! Minha serra, dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, na distância!
Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.
Depois, o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu velho paraíso!
Miguel Torga – Diário VI (1963)
«SAUDADE»
As velas passam ao vento
Do mar, pela imensidade,
Como as velas da saudade
Pelo mar do pensamento.
Ter saudades... para quê?
- Para a luz surgir mais viva.
É mais belo o que se vê
Quando se tem perspetiva.
Saudade, disse um poeta:
- «É gosto amargo!» - também
O travo do pranto amarga
E que doçura que tem!
Ao Sol ardente de Agosto
Tem-se saudades do Inverno,
No mundo nada contenta,
Nada, por isso, é eterno!
A saudade é o cri-sol
Duma afeição bem sentida;
A saudade é como o Sol:
Ora queima, ora dá vida!
Poema de Maria de Carvalho
Aquele Abraço
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