quarta-feira, 15 de junho de 2016

Não dês tanto pelo assobio !




« Quando eu fiz sete anos - contou-me um dia o Franklin - os meus colegas de escola pifaram em casa aos pais umas moedas e deram-me de prenda.
- Compra o que quiseres, mas que te faça falta! - disseram eles.
Todo contente, no fim da aula dirigi-me logo a uma loja lá da aldeia onde sabia que vendiam brinquedos. Gostava tanto daqueles carrinhos, com formato de ambulância, de reboque, etc...
Todavia, pelo caminho, encontrei um rapaz que imitia um som esplêndido por um assobio, como eu havia um dia sonhado, que chamava a atenção de toda a gente. E perguntei-lhe:
- Quanto queres por esse assobio?
Ele respondeu-me:
- Todo o dinheiro que levas aí no bolso!
E sem hesitar, dei-lhe todo o dinheiro que trazia.
Cheguei a casa tão feliz e atordoava toda agente, família e vizinhos, com o impressionante assobio.  
No dia seguinte, os colegas quiseram ver o que tinha comprado e mostrei-lhes, alto e bom som, o meu assobio. Olharam uns para os outros e fizeram uma crítica negativa. Estranharam que tivesse dado todo o dinheiro que me ofereceram por um brinquedo tão impertinente e que valia, segundo eles, a décima parte do dinheiro que por ele dei. Então, com argumentos, fizeram-me pensar no número de outras coisas, diversificadas e melhores, que naquela ocasião poderia ter comprado se tivesse sido prudente. E logo eu, de família pobre, mas que me julgavam ser mais inteligente que eles. 
E praticamente em coro, escutei pela primeira vez :
- Porque deste tanto pelo assobio?
Sem argumentos para me defender, durante muitos dias fizeram escárnio de mim, que não me recordo de chorar tanto de desespero.
Sozinho e desprezado por todos, caí em mim e refleti na ação que ingloriamente pratiquei, pois ao meu redor só via gozo, por ter defraudado todas as expetativas dos meus colegas. Algum tempo depois, os meus pais mudaram de terra e quando chegou o novo ano letivo, entrei noutra escola, e nunca mais os vi. Só que este incidente, fruto da minha ingenuidade, serviu-me de lição para o futuro.
Quando me via atentado a comprar alguma coisa que não me fosse precisa, dizia para mim mesmo:
- Não dês tanto pelo assobio!
E com este pensar, comecei a poupar algum dinheiro, que guardava num mealheiro no meu quarto.
À medida que ía crescendo e compreendendo as atitudes humanas, encontrava sempre pessoas que, no meu parecer, davam demais... pelo assobio.
Eu via gente disfarçada de rica a contrair dívidas, e outros cheios de categoria a puxar por cartões de crédito, e que não olhavam a despesas para satisfazer os seus mais amplos prazeres e naquele momento dizia logo:
- Aqueles dão demais pelo assobio!
A minha análise à sociedade e aos políticos atingiu uma dimensão mais ampla e até quando os ouvia na assembleia, que via quem sacrificava o descanso, a Liberdade, a virtude, em troca de louvores ou honrarias, dizia igualmente:
- Estes também dão demais pelo assobio!
Compreendi, por fim, que a infelicidade dos homens resulta, tantas vezes, dos cálculos errados sobre o valor das coisas e que muito frequentemente... se dá demais pelos assobios!» 



Moral desta História:

Encontrei por casualidade um antigo colega de trabalho, no ramo cervejeiro, que me reconheceu de há trinta anos, e sentamos a tomar café.
A dada altura da conversa, disse que estava... na merda... e se lhe podia emprestar algum dinheiro, que era por pouco tempo, que não havia crise, que podia confiar nele... bla, bla, bla... etc.
Então, já com o meu espírito piedoso, perguntei-lhe como é que havia chegado a essa situação, para melhor me inteirar do que se estava a passar na sua vida, querendo saber algo de concreto.
Mas, ele respondeu-me que tinha investido "numas cenas" onde lhe parecia que poderia ganhar bastante "pasta" e que a coisa para já estava um pouco "encravada", mas nada que a breve prazo não se resolva, e aí até podia sobrar uma boa "maquia" também para mim... dependia só do que lhe emprestasse agora. E disse ainda, que não tinha que me estar a dar mais pormenores da sua vida...
Depois de ouvir tudo o que ele me quis dizer, respondi-lhe:
- Olha, a vida para mim também não está fácil, e o que te posso ajudar é no seguinte:  
Reparei, entretanto, que arregalou os olhos aos meus movimentos na cadeira e quando julgou (foi a ideia que me ficou) que eu fosse com a mão direita ao bolso interior do casaco do lado esquerdo, baixei a mão ao bolso das calças e tirei para fora o pequeno porta-moedas negro que trago sempre, retirando dele uma nota de 5 euros, dizendo-lhe de imediato:
- Vou pagar estes cafés (o meu e 3 que ele foi tomando enquanto falamos) e toma lá este humilde valor que como vês é só o que trago e sei que te paga um almoço económico mais logo.
Agora, não sei se vais entender estas palavras que te vou dizer:
- Porque deste tudo... por um assobio... que te deixou assim... na merda...?
Por saber (daqueles tempos) com quem agora estava outra vez a falar, levantei-me e retirando-me, disse-lhe que lhe desejava as maiores felicidades!... 


Aquele Abraço

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