segunda-feira, 10 de maio de 2010

Abril

Brinca a manhã feliz e descuidada,
Como só a manhã pode brincar,
Nas curvas longas desta estrada
Onde os ciganos passam a cantar.

Abril anda à solta nos pinhais
Coroado de rosas e de cio,
E num salto brusco, sem deixar sinais,
Rasga o céu azul num assobio.

Surge uma criança de olhos vegetais,
Carregados de espanto e de alegria,
E atira pedras às curvas mais distantes
- Onde a voz dos ciganos se perdia.

Poema de Eugénio de Andrade

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