sábado, 5 de setembro de 2015

As maravilhas das "Redes Sociais" e a Vida




Na edição nº 48 do Jornal Novo de Valongo, li estas "Três quadras simples" da autoria de Fernando Oliveira Faria (a quem aproveito para enviar os parabéns por estas publicações genuínas) que me fizeram lembrar aquele dia - já lá vão alguns anos - que encontrei o «Tony» ( para quem vai esta homenagem) numa tasca lá no parque de S. Salvador de Bouças a enfrascar p'ra esquecer o que lhe havia acontecido, depois que descobriu o verdadeiro "valor social" que as fantásticas "Redes Sociais" proporcionam aos seus registados utentes.

- Pára de beber e desabafa lá o que te fez cair assim nesse estado, disse-lhe.
E contou a história que aqui resumo, evidentemente:



( Tony / No ecrã )

« - Eu sempre gostei "dela", desde que a vi não me saiu mais do pensamento.
"Ela" tinha ficado livre e era a oportunidade, assim julgou, de se declarar, como muitos fazem, por um portal das "Redes Sociais" na página que "ela" havia criado e já lá tinha ido várias vezes, ou melhor, todos os dias, onde até constava dos primeiros da "lista de amigos".
- Fiz-lhe elogios e perguntei como... era possível? - disse ele.
Julgando-se bem intencionado, passados alguns minutos - na esperança de um só minuto - voltou a entrar na página e até já tinha parte do poema «perguntas» do Bruno, decorado para acrescentar e lhe dedicar. 
- Que poema é esse? - perguntei. Ainda o sabes?
- É esse mesmo, retorquiu. Também conheces?... insistiu já meio rouco.
- Ouve lá, conheço o quê? Estou te a perguntar se te lembras do poema!?
- É o nome dessa parte do poema: «Sabes?»
E disse todinho, sem falhar uma palavra que fosse:

«Sabes?
simplesmente pergunto se sabes...
sabes o quanto te amo? o quanto por ti sofro?
sabes que por ti choro? sabes que é contigo que sonho?
sabes que as tuas lágrimas em meu peito são adagas?
sabes que é por ti que vivo? e que só por ti morro?
sabes que é por ti que escrevo estas palavras?
sabes?
apenas pergunto se sabes... »




- Fantástico! ... disse eu. E então?
- Para meu desalento, a mensagem já havia sido retirada.
- Senti-me rejeitado, na verdadeira ascensão da palavra,.. disse ele com alguma raiva.
- Podia ao menos ler ou ouvir o que tinha para lhe dizer. Mas não, eliminou-me logo.
- Que se f... as redes sociais!... berrou bem alto.
Lágrimas escorriam-lhe pela face e começou a cambalear um pouco, quando aconselhei que fosse lá para baixo, p'ra praia refrescar-se da cabeça aos pés, que íria fazer-lhe bem.
Até pensei que tal como o Bom Jesus de Bouças ali no areal do Espinheiro recuperou o braço que havia perdido, quiçá, talvez por obra de mais um dos seus milagres, até ele encontrasse ali a sua... cara- metade.
Ele saiu, como que a dizer... paga lá isto!... e virei-me para o balcão e perguntei quanto era a dívida dos dois.
- Com a sua, são oito euros certos, disse.
Fosca-se, disse eu baixo para mim... o tipo já tinha mamado 7 bejecas!
Fica-me a dever esta, pensei. Que raio de maneira é sempre esta quando se quer esquecer... mágoas.
E saí a gracejar um pouco comigo mesmo, insinuando que como o gajo ainda é casado,  embutiu uma para cada... pecado mortal!... que caral... o que me havia de lembrar.

Deixamos de nos ver e passados tempos, encontrei-o numa ruela de uma "cidade nova" que foi outrora um alegre lugarejo onde se vinha da baixa para tomar ares e agora triste e poluída é cidade. Isto dá cada volta...



( Tony / Cara a Cara )

Então pá? Tá tudo ou quê?... perguntei e cumprimentamos-nos.
E arrematei logo:
- E "aquilo", como é que ficou aquilo, com "ela".
- Tá calado, pá... disse ele.
- Lá na praia, por algumas horas até adormecer, vivi os "Murmúrios do Mar" e passado mais de um ano, cumpria-se o pedido desse poema e lá parecia que vinha outra chance para me declarar... a "ela", não é?! ... teria que esperar... mas na conversa com quem estava ali também presente, ao perguntarem-lhe "vais voltar a casar?" ouvi bem explicadinho da sua própria boca:
- Não quero mais homem! Os homens são todos a mesma merda! Só pensam em sexo...!
Retirou-se uma vez mais desolado a pensar para consigo o que estaria errado, ou melhor, "lama sabachthani"?
Coitado do «Tony»... não tem mesmo sorte ao Amor!
Para não perder uma amiga, nunca a assediou mas foi metido no mesmo "saco" dos oportunistas.

( Tony / Época fria )

Tempos mais tarde, e para seu espanto, soube que "ela" o havia procurado, quiçá em desespero.
"Ela" sabia que ele era naturalista e gostava dos métodos biológicos. Costumava ir à lenha para se aquecer naquela época fria. Então, quis surpreende-lo... lá... e resolveu esperar convicta que ele aparecesse com o carrego às costas. Esperou... esperou... e como ele não aparecia, resolveu procurá-lo na vertente da serra entre os abrolhos, giestais e silvados e até andou próximo da corrente tumultuosa dum rio que não pára de correr.
Mas ele já tinha em casa lenha que chegasse para se queimar e não foi nesse dia.
Para seu desalento, procurou... procurou... até que num pulo a noite caiu cerrada e como é lógico, às escuras ninguém encontra... ninguém! E até hoje não mais se viram, considerando-se... amigos.




Moral da história

Para mim está bem explicado "É a Vida!":

A Vida nem sempre é o que a gente quer!
A Vida não é só no ecrã!
A Vida é o dia a dia e em todo o lado!
A Vida não espera por ninguém!


Terminada esta conversa, levantou-se da soleira, cumprimentou-me e foi-se embora, olhando para o relógio e que tinha pressa e nem abordou da despesa do tasco.
«Tony», sou teu amigo e espero que um dia pagues o que deves e desejo que te aconteça num novo amanhecer a paixão para voltares a amar, que um dia te desapareceu!

Aquele Abraço



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