Num dia de sol escaldante
Uma raposa caiu
Num poço, com água abundante;
Chegou um lobo caminhante
Que passava por acaso e a viu.
D'uma polé pendurava
(Porque o poço era profundo)
Uma corda, à qual atava
Dois baldes: um no alto estava,
No outro a raposa no fundo.
Mas a bicha, que é matreira,
Fala ao lobo e diz: - Senhor
Quereis ganhar muito dinheiro?
Então, socorrei-me primeiro,
E vos pagarei um grande valor!
Ao ouvir isto, sem porfia,
O pobre lobo fanfarrão
Logo no balde se metia;
Ele desce e ela subia,
Por força desta invenção.
Toparam-se quase ao cruzar,
E o lobo que ia sempre caindo,
Traído, desata a chorar...
Ela a rir, nem quer acreditar
Que à custa dele estava subindo.
Por fim ao medo venceu...
Fala o lobo e diz: - Comadre
É isto que mereço eu?
Mas ela a zombar do sandeu
Nem lhe quis chamar compadre.
E disse-lhe: - Ouve lá, vagabundo,
Os teus queixumes não me entristecem;
Acaba é já de ir-te ao fundo,
Que isto são as «REGRAS DO MUNDO» :
"Quando uns sobem, os outros descem!"
(Adaptado poema de D. Francisco Manuel Melo - XIX)
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