Eu fui a árvore do monte,
Linda fonte de verdura,
Sem nunca ver uma fonte.
Vivi cem anos, segura
Da minha vida inocente,
Fecunda, bondosa e pura.
Mas, um dia, ao Sol-nascente,
Vieram homens... morri,
Sempre formosa e contente.
É meu corpo, agora e aqui,
Fonte de luz e calor;
E vejo o que nunca vi.
Ardo em frémitos de amor
Na lareira pobrezinha
Do rude e bom cavador.
Tudo de mim se avizinha:
Mãe e Pai, filhos pequenos,
A velha e santa avózinha.
O próprio cão do pastor
Tem doce partilha igual
Nas bençãos do meu calor.
Lá fora, que vendaval!
Que noite escura, que frio,
Que desesperos, que mal.
Ralha o trovão, chora o rio,
-E dou luz à casa toda!
Canto, abençoo, sorrio.
E a família à minha roda:
Cisma o pai na sementeira,
A filha sonha na boda.
E subo mais vivo e puro;
-Aceno, digo que sim;
Leio nas sombras, murmuro...
Almas tão lindas! Ao vê-las,
Brilho mais e mesmo assim,
-Dou-lhes eu luz - ou são elas
Que me dão a luz a mim?...
Poema de António Correia de Oliveira
Sem comentários:
Enviar um comentário